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Brasil

Bolsonaro sob pressão com desaparecimento de jornalista britânico e de activista na Amazónia

No Brasil, o caso do desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do militante pelos direitos das populações índias Bruno Pereira há uma semana na Amazónia está a colocar as autoridades do país sob pressão, com notícias contraditórias sobre a suposta descoberta de corpos e especulações sobre um assassínio.

As buscas continuam pelo jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, desaparecidos há uma semana na Amazónia.
As buscas continuam pelo jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, desaparecidos há uma semana na Amazónia. AP - Eraldo Peres
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Depois de familiares de Dom Phillips terem relatado ontem terem sido informados pela embaixada do Brasil no Reino Unido de que tinham sido encontrados corpos que poderiam ser dos dois homens desaparecidos, a polícia brasileira desmentiu essa informação e indicou que continua as buscas pelo activista brasileiro e o jornalista britânico desaparecidos desde o passado dia 5 de Junho, no Vale do Javari, no norte do Brasil.

Ao desmentir a informação sobre a eventual descoberta de corpos, a polícia brasileira informou contudo que tinham sido encontrados na área das buscas alguns objectos pertencentes aos desaparecidos, como documentação pessoal, mochilas e botas. As autoridades locais que procederam na passada sexta-feira à detenção provisória de um suspeito, um homem de 41 anos que foi visto atrás do barco em que viajavam o jornalista e o activista no dia do seu desaparecimento, referiram ainda que vestígios de sangue encontrados no seu barco estão a ser analisados, os resultados devendo ser conhecidos durante esta semana.

Dom Phillips, 57 anos, jornalista ligado ao diário britânico 'The Guardian' e autor de vários artigos sobre as ameaças ambientais e a situação das populações da Amazónia, tinha-se deslocado àquela zona no intuito de escrever um livro sobre esse lugar recôndito da floresta amazónica, situado numa zona que faz fronteira com o Peru e a Colômbia que é conhecido por ser palco de tráfico de droga, madeira e garimpo, bem como de ataques constantes contra as comunidades locais.

Phillips estava a ser assistido na sua investigação por Bruno Pereira, 41 anos, activista brasileiro pelos direitos das comunidades locais. No passado, o activista tinha denunciado ameaças contra ele em 2019, numa altura em que ele estava a trabalhar com as autoridades locais num plano de defesa do vale da Javari, para salvaguardar a floresta e as comunidades.

Em entrevista concedida em Brasília a Raquel Miura, correspondente local da RFI, Renan Oliveira, defensor público federal, recorda precisamente esse aspecto e sublinha que "as ameaças ao Bruno já tinham inclusivamente sido alvo de decisão judicial relatando toda esta situação de violência geral no vale de Javari. Só que a gente percebe que há uma necessidade de uma intervenção estrutural do Estado, inclusive há um plano de protecção que foi elaborado em parceria também com Bruno Pereira que está para ser homologado pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio). A gente espera isso, que a FUNAI concorde e, a partir daí, a justiça federal também irá homologar."

Insistindo sobre a necessidade de uma maior presença do Estado nessa zona isolada do país, Renan Oliveira realça que "o vale do Javari, com mais de 8 milhões de hectares, é uma região muito grande. Então, o Estado brasileiro precisa efectivamente ocupar essa área fazendo uma protecção territorial." Ao referir que tem havido "diálogo com os povos da região e eles estão realmente muito apreensivos", este responsável interroga-se: "se o Bruno e Dom foram assassinados, como é que fica a situação deles?"

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Renan Oliveira, defensor público federal no Brasil

Criticado pela ausência de reacção face à desflorestação acentuada que se regista no país desde que chegou ao poder em Janeiro de 2019, o poder do Presidente Jair Bolsonaro tem estado agora também sob pressão dos familiares dos desaparecidos e das comunidades do Vale do Javari que denunciam a demora na implementação de buscas dos dois desaparecidos. Bolsonaro foi acusado de pretender rejeitar sobre os desaparecidos a responsabilidade do sucedido ao considerar publicamente que tinham enveredado para uma "aventura".

“Não tenho notícias do paradeiro deles. Pedimos a Deus que sejam encontrados vivos, mas sabemos que a cada dia que passa essa chance diminui. Eles entraram em uma área, não participou a FUNAI. Tem um protocolo a ser seguido, e naquela região geralmente a gente anda escoltada. Foram para uma aventura. A gente lamenta pelo pior", declarou Bolsonaro no final da semana passada.

O desaparecimento de Phillips e Pereira suscitou uma onda de solidariedade internacional. Além de apelos ao esclarecimento do caso emitidos nomeadamente pela banda britânica U2, pelo cantor Caetano Veloso e o futebolista Pelé, o dia de ontem foi marcado por uma manifestação de dezenas de membros das comunidades locais em Atalaia do Norte, junto da sede da FUNAI, no Vale do Javari.

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