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Festival de Avignon 2021

Tiago Rodrigues e Christiane Jatahy na abertura do Festival de Avignon

A 75ª edição do festival de Avignon, o mais destacado festival francês de teatro, arranca esta segunda-feira, 5 de Julho com duas peças lusófonas. Entre Chien et Loup da encenadora brasileira Christiane Jatahy e O Cerejal do encenador português Tiago Rodrigues.

Cour d’Honneur do Palácio dos Papas, 2015.
Cour d’Honneur do Palácio dos Papas, 2015. © Christophe RAYNAUD DE LAGE Christophe Raynaud de Lage / Festival d'Avignon
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"Entre Chien et Loup" é o mais recente espectáculo da encenadora Christiane Jatahy, que estreia esta segunda-feira no festival de Avignon. A peça é uma adaptação do filme Dogville de Lars Von Trier.

Entre chien et loup é uma expressão francesa que designa, nomeadamente, a impossibilidade de diferenciar, no escuro, um cão de um lobo. "A expressão tem uma relação com a ideia do cão e do lobo, claro, sobre a mudança de comportamento de um animal domesticado, afectuoso e que vive num contexto familiar, quando esse animal vira e nos pode atacar. Quando existe uma transformação e a sombra vem à tona", explicou Christiane Jatahy.

Simultaneamente, o nome da peça "Entre Chien et Loup"  é de difícil tradução em português, confirma a encenadora. "A tradução é sobre o poente, sobre o momento em que o sol se põe. A passagem do dia para a noite, esse portal de passagem que é o momento em que não se consegue definir claramente as coisas. Entre Chien et Loup não é o cachorro e o lobo, mas é a fronteira que está representada na passagem do dia para a noite", descreve a encenadora.

Em "Entre Chien et Loup", a encenadora brasileira propõe uma reflexão sobre a ameaça crescente dos extremismos no Brasil e no mundo. "O Brasil é o exemplo mais claro disso, mas é um risco que corremos no mundo inteiro. Esta passagem de quando o fascismo começa a sua ascensão e não conseguimos perceber", explica.

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Encenadora brasileira, Christiane Jatahy

“O Cerejal” de Anton Tchekhov estreia também esta segunda-feira na Cour d’Honneur do Palácio dos Papas, um dos mais importantes espaços do festival.

Com um elenco de actores e músicos portugueses e francófonos, esta última obra de Tchekhov escrita em 1904, é protagonizada pela actriz francesa Isabelle Huppert, mas não só como nos explica o encenador Tiago Rodrigues. Existem vários protagonistas n'O Cerejal; Lioubov, o espaço, o cerejal e, claro, o público.

Uma peça que parece ter sido escrita para a Cour d’Honneur: "Sabemos que a Cour d’Honneur no nosso espectáculo é sinónimo de cerejal. Este espaço é o nosso cerejal, a casa onde estamos, o passado, a memória, a beleza ou a coisa que se pode perder a qualquer momento", descreve o encenador português.

"Não nos podemos esquecer que no ano passado o público não visitou a Cour d’Honneur, portanto ela pode nos ser roubada por um motivo ou por outro, a qualquer momento. É uma coisa que temos de preservar, senão pode fugir-nos das mãos", prossegue Tiago Rodrigues, acrescentando que há outro protagonista "enorme" e "inevitável" na Cour d’Honneur: o público.

O recinto mais prestigiado do festival de Avignon volta a poder receber 2.000 pessoas, mediante condições sanitárias estipuladas pela organização do festival. O público vai, possivelmente, interpretar o texto de Tchekhov como se o dramaturgo russo tivesse escrito sobre o pós-pandemia, mas segundo Tiago Rodrigues "vai olhar para a peça e pensar: parece escrita para a Cour d’Honneur".

"Quase no final da peça, quando Isabelle Huppert olha à volta para a casa que em breve será demolida, a velha casa da sua infância, esse lugar de memória, de passado, de beleza e diz: estes muros já viram tanta coisa - ces murs qui ont tant vu - e sai de palco, inevitavelmente pensamos na Isabelle Huppert que já representou diversas vezes na Cour d’Honneur, que fala da história daquele lugar mítico, da importância daquele lugar para o teatro e que o faz num momento em que estamos, depois da pandemia, a voltar a poder ocupar estes lugares, mas também a  perguntar o que significa hoje e no futuro ocupar estes lugares teatrais e viver a assembleia do teatro", partilha o encenador que estreia amanhã "O Cerejal", na abertura do festival de Avignon.

Encenador português, Tiago Rodrigues

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