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Meca/Covid-19

Meca: peregrinação em tempos de Covid-19

Começa nesta quarta-feira, 29 de Julho, o Hajj, a peregrinação anual a Meca, que representa um dos cinco pilares do Islão, que este ano decorre sob restritas medidas sanitárias devido à pandemia de Covid-19 e com apenas cerca de 10.000 fieis presentes, 30% são cidadãos sauditas e 70% estrangeiros residentes na Arábia Saudita, contrariamente aos 2,5 milhões de peregrinos que se deslocaram a Meca no ano passado, vindos sobretudo do estrangeiro.

Peregrinos muçulmanos a 29 de Julho de 2020, rodam em torno da Caaba, o lugar mais sagrado do Islão, na Grande Mesquita de Meca, que este ano e contrariamente à tradição não podem tocar, nem beijar, devido à pandemia de Covid-19.
Peregrinos muçulmanos a 29 de Julho de 2020, rodam em torno da Caaba, o lugar mais sagrado do Islão, na Grande Mesquita de Meca, que este ano e contrariamente à tradição não podem tocar, nem beijar, devido à pandemia de Covid-19. AFP
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Os fiéis muçulmanos seleccionados para participarem no Hajj, terminaram, nesta terça-feira (28/07), a quarentena imposta, antes de iniciarem sua peregrinação anual a Meca, depois de terem sido submetidos a testes, exames médicos e colocados em isolamento, quando chegaram à cidade no fim de semana.

As suas malas foram desinfectadas e alguns receberam pulseiras eletrónicas para vigiar os seus movimentos. 

Equipas trabalharam até o último momento para limpar e desinfectar os arredores da Caaba, a construção cúbica no coração da Grande Mesquita de Meca, para a qual os fiéis de todo mundo se voltam para orar.

Mas este ano os peregrinos não poderão tocar fisicamente na Caaba, para limitar o risco de infecção.

Cada um recebeu um kit, contendo pedras esterilizadas para o ritual de apedrejamento de Satanás, desinfectantes, máscaras e um tapete de oração, além do "ihram", o traje imposto pelo Ministério do Hajj.

Este ano, a imprensa estrangeira não foi autorizada a cobrir a cerimónia.

Apenas cerca de 10.000 cidadãos sauditas e estrangeiros residentes Arábia Saudita vão participar no ritual este ano.

As autoridades locais não revelaram detalhes sobre a escolha dos “eleitos” mas garantem que o processo de selecção dos inscritos - apenas por internet - foi transparente e que o estado de saúde dos participantes foi determinante

O número de peregrinos não deve ultrapassar os 10.000 e todos deverão respeitar uma quarentena após o ritual.  

Em 14 séculos de existência o Hajj foi interrompido pelo menos 40 vezes, por razões políticas devido a guerras muçulmanas fratricidas ou crises sanitárias, como sucedeu em 2013 com a epidemia de coronavírus MERS, ou ainda no final do século XIX com o Egipto, devido a uma epidemia que impediu os fieis egípcios de se deslocarem a Meca.

Impacto económico

Cada peregrino normalmente gasta milhares de dólares no Hajj, mas, este ano, o governo saudita cobre a maior parte das despesas, incluindo acomodação e refeições, sendo que em tempo normal o Hajj e a Umra faturam anualmente cerca de 12 mil milhões de dólares.

A "Umra", que foi suspensa em março, é a "pequena peregrinação", que normalmente atrai milhares de fiéis todos os meses, enquanto o Hajj, ocorre apenas uma vez ao ano, no início do mês lunar muçulmano de "du l-hiyya".

As restrições ligadas à peregrinação este ano vão piorar a crise económica na Arábia Saudita, que registou cerca de 270.000 casos de infectados pela pandemia de Covid-19, uma das taxas mais elevadas no Médio Oriente, que já tem que fazer face à queda dos preços do petróleo, devido ao colapso da demanda global e às consequências da pandemia.

Um dos pilares do Islão

A peregrinação anual a Meca, cidade santa do oeste da Arábia Saudita, é um dos cinco pilares do Islão, que todo o fiel deve cumprir pelo menos uma vez na vida, se tiver os meios financeiros para isso.

As outras obrigações rituais definidas pela lei islâmica são professar a fé, a oração, o jejum e o zakat (caridade).

A peregrinação inspira-se numa tradição anterior ao Islão, que remonta a Abraão, patriarca bíblico venerado por muçulmanos, judeus e cristãos.

Na Caaba, encontravam-se centenas de símbolos pré-islâmicos, destruídos em 630 por Maomé no seu regresso triunfal a Meca.

O Hajj inclui diversas etapas codificadas.

A primeira delas é o "Ihram" (sacralização), ou seja o fiel deve purificar-se ao paorximar-se da Meca. Os peregrinos não podem usar perfume, nem cortar os cabelos e as unhas. Eles devem abster-se de qualquer discussão e de relações sexuais.

Quando chegam a Meca, acontece o "Tawaf", ritual que consiste em dar sete voltas à Caaba e se for possível, tocar e beijar a pedra preta encrustada numa das esquinas do monumento, mas esta parte do ritual foi proibida em 2020.

Sacrifício de animais e apedrejamento de Satanás

O peregrino também deve fazer sete vezes o percurso entre Safa e Marwa - dois lugares próximos da Grande Mesquita, separados por cerca de 400 metros - seguindo os passos de Agar, segunda esposa do profeta Abraão. Essa etapa se chama “Sa'i” e depois dela, o fiel desloca-se ao vale de Mina, a 5 kms a leste, onde deve pernoitar.

No dia seguinte, todos convergem para o Monte Arafat, também conhecido como Montanha da Misericórdia, ponto culminante da peregrinação.

Foi no Monte Arafat que, segundo a tradição islâmica, o profeta Maomé pronunciou seu sermão de adeus aos muçulmanos, que o acompanhavam na peregrinação no final de sua vida.

Ao cair da noite, os peregrinos dirigem-se a Muzdalifa para se prepararem para o Eid al Adha, a Festa do Sacrifício, que consiste em imolar um animal em memória de Abraão.

Em seguida, iniciam o apedrejamento das três colunas que representam Satanás em Mina.

Em 2015, uma explosão durante o ritual matou cerca de 2.300 peregrinos.

A visita à cidade de Medina, onde se encontra o mausoléu do profeta Maomé, é facultativa e pode ocorrer antes, ou depois, do Hajj.

 

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