Bayer paga 10 biliões de dólares para fechar processos contra glifosato
A farmacêutica alemã Bayer anunciou ontem à noite ter chegado a acordos em tribunal para fechar cerca de 100 mil dos 125 mil processos que herdou nos Estados Unidos em 2018 na compra do gigante químico Monsanto. Em causa estava o «Roundup», um herbicida contendo glifosato, uma substancia que de acordo com vários estudos científicos provoca cancro. Bayer concorda em pagar 10 mil milhões de dólares mas não reconhece nenhuma falha.
Publicado a:
Ouvir - 01:18
No seu comunicado emitido esta quarta-feira à noite, o director-geral da Bayer, Werner Baumann, considera que “os acordos da Roundup são a acção certa na altura certa para a Bayer, para terminar este longo período de incerteza. Infelizmente, temos de pagar uma horrível quantidade de dinheiro por um produto que está perfeitamente regulado”, considerou.
Em 2018, quando aquela que é uma das maiores empresas do sector químico e farmacêutico compra por 63 mil milhões de dólares a Monsanto, fabricante do Roundup, herbicida considerado responsável dos cancros de muitos dos seus utilizadores, também herda os seus milhares de queixas e processos.
Ao estimar que 75% dos litígios ficam encerrados com o acordo anunciado ontem, a Bayer comprometeu-se, em troca do fim das acções judiciais, a distribuir nos próximos meses 8,8 mil milhões de dólares pelos queixosos, os restantes 1,25 mil milhões sendo reservados a eventuais futuros outros contenciosos..
No âmbito deste entendimento, a Bayer refere igualmente que os próximos litígios em elo com o glifosato ficam mais enquadrados, sendo que outros dossiers delicados herdados da Monsanto, o pesticida Dicamba e a poluição da água com o PCB, também ficaram encerrados.
O grupo alemão que não reconhece contudo os efeitos nefastos do Roundup, apesar de em diversas ocasiões os tribunais americanos estabelecerem um elo entre o glifosato e os cancros dos seus utilizadores, indicou que 3 processos não são contemplados pelo acordo. Um deles é o mediático caso de Dewayne Johnson, cujo cancro incurável diagnosticado em 2014, levou esse jardineiro da Califórnia a atacar a Monsanto em justiça. Um processo herdado pela Bayer que em 2018 foi condenada a pagar 289 milhões de euros ao queixoso, um valor que foi reduzido em seguida, mas que não impediu a Bayer de apresentar recurso. Este e dois outros processos continuam.
Consciente do efeito destes contenciosos sobre a sua imagem e o valor das suas acções na bolsa, a Bayer anunciou ontem que vai ser criado um conselho de peritos independentes para averiguar cientificamente os possíveis elos entre a utilização do glifosato e o aparecimento de cancros.
Refira-se que já em 2019, a Bayer tinha também assumido o compromisso de gastar 5 mil milhões de euros nos próximos dez anos no intuito de desenvolver produtos alternativos aos herbicidas actualmente utilizados.
A nível da União Europeia, apesar de algumas restrições, a utilização do glifosato continua a ser autorizada até 2022. Em França, esse será também o ano em que se vai reavaliar a sua legalidade. Em Julho do ano passado, a Áustria anunciou a proibição desse herbicida, antes de voltar atras, no passado mês de Dezembro.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro