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Bolívia

Evo Morales não resiste e renuncia ao cargo

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou este domingo a demissão, depois de três semanas de forte contestação contra a sua reeleição a após perder o apoio das Forças Armadas e da Polícia.

Evo Morales anunciou este domingo a demissão
Evo Morales anunciou este domingo a demissão HO / Presidência da Bolívia / AFP
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Renuncio ao cargo de presidente”, foi assim que Evo Morales anunciou o seu afastamento numa declaração transmitida pela televisão do país. O líder indígena de 60 anos, no poder desde 2006, acrescentou que se afasta para proteger o povo boliviano: "renuncio para que os meus irmãos não sejam ameaçados. Lamento muito este golpe civil".

Morales demitiu-se depois de três semanas de fortes manifestações contra a sua reeleição para um quarto mandato (que provocaram a morte a três pessoas e mais de 380 feridos) e depois de ter perdido o apoio da Polícia e das Forças Armadas. Uma hora antes de Morales formalizar a demissão, os chefes das Forças Armadas (Williams Kaliman) e da polícia (Vladimir Yuri Calderón) tinham exigido que o presidente abandonasse o cargo em prol da estabilidade e paz no país.

“Após análise da situação interna, pedimos ao presidente que renuncie ao seu mandato presidencial, em prol da estabilidade, manutenção da paz e bem-estar da nossa Bolívia”, declarou à imprensa o general Williams Kaliman.

“Nós juntamo-nos ao apelo do povo boliviano e sugerimos ao presidente Evo Morales que apresente a sua demissão para pacificar o povo da Bolívia”, anunciou igualmente o comandante geral da Policia Vladimir Yuri Calderon.

Caos na capital

Depois do anúncio de Evo Morales, um pouco por todo o país, os opositores do regime saíram às ruas para festejar a saída do chefe de Estado. Na capital, La Paz, a situação continua tensa, com episódios caótico a terem lugar durante a noite, como o registo de múltiplos roubos e pilhagem de lojas, casa de opositores incendiadas e ataques a instalações públicas.

Os apoiantes do agora ex-presidente são acusados de terem semeado o terror em toda a cidade, além do registo de confrontos de extrema violência entre pró e anti Morales.

Os sucessores previstos na Constituição em caso de renúncia também se demitiram com Evo Morales: o vice-presidente, a presidente e vice-presidente do Senado e o presidente da Câmara dos deputados.

As reacções da América Latina

Aliado tradicional do líder socialista, Cuba reagiu rapidamente. Via Twitter, o presidente Miguel Diaz-Canel condena o “golpe de Estado na Bolívia”, e apela a mobilização mundial “pela vida e liberdade de Evo”.

Da Venezuela, a condenação do presidente Nicolas Maduro: “condenamos categoricamente o golpe de Estado contra o nosso irmão presidente Evo Morales”. Também via Twitter, o presidente venezuelano apelou “à mobilização para exigir a protecção da vida dos povos indígenas bolivianos, vítimas de racismo”.

“Na Bolívia teve lugar um golpe de Estado levado a cabo por civis violentos, polícias e a passividade do exército”, pode ler-se na conta de Twitter do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernandez.

O México, por seu lado, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros Marcelo Ebrard, propôs asilo a Evo Morales, depois de ter acolhido funcionários e parlamentares bolivianos na sua embaixada em La Paz.

“O México, de acordo com a sua tradição de asilo e de não-intervenção, acolheu 20 personalidades do executivo e legislativo da Bolívia na residência oficial em La Paz, e se assim o decidir, nós oferecemos também asilo a Evo Morales”, palavras do chefe da diplomacia mexicana.

O presidente Brasileiro Jair Bolsonaro aproveitou o momento para defender o voto impresso: “Denúncias de fraudes nas eleições culminaram na renúncia do Presidente Evo Morales. A lição que fica para nós é a necessidade, em nome da democracia e transparência, contagem de votos que possam ser auditados. O voto impresso é sinal de clareza para o Brasil!”, escreveu no seu perfil oficial no Twitter.

Mais directo foi o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo: “Não há nenhum golpe na Bolívia. A tentativa de fraude eleitoral maciça deslegitimou Evo Morales, que teve a atitude correcta de renunciar diante do clamor popular. Brasil apoiará transição democrática e constitucional. Narrativa de golpe só serve para incitar violência”.

 

Rússia denuncia onda de violência e UE pede moderação

Evo Morales renunciou ontem ao cargo após quase 14 anos no poder. Tinha sido reeleito nas eleições de 20 de Outubro para um quarto mandato, sob fortes suspeitas de fraude eleitoral.

Entretanto a Rússia denunciou nesta segunda-feira a onda de violência orquestrada pela oposição boliviana para forçar o presidente Evo Morales a renunciar.

Em comunicado, o ministério russo das Relações Exteriores indica que o governo boliviano "queria uma solução baseada no diálogo político, mas os acontecimentos recordam um golpe de Estado".

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, pediu moderação a todas as partes: "Após os acontecimentos na Bolívia, gostaria de expressar claramente o nosso desejo de que todas as partes do país exerçam moderação e responsabilidade". Mogherini, também, pediu que "dirijam [o país] de maneira pacífica e tranquila para novas eleições. Eleições confiáveis que permitam ao povo da Bolívia expressar sua vontade democrática".

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