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Política/Turquia

Turquia: golpe e choque de democracias

Após o golpe militar abortado, a Turquia poderia entrar numa nova fase política caracterizada por uma importante purga, não só no seio das Forças Armadas, mas também noutros sectores do aparelho de Estado , como nomeadamente a Justiça. Os sectores kemalistas do Exército turco,serão os mais visados pelo facto de terem evidenciado o seu descontentamento para com o rumo político tomado pelo pais, desde que o AKP( Partido da Justiça e Desenvolvimento) de Recep Tayyip Erdogan iniciou a sua ascenção na cena política da Turquia. Especialista de questões do Norte de África e do Médio-Oriente bem como investigador do CINAMIL(Centro de Investigação e Inovação da Academia Militar Portuguesa) Raul Braga Pires explicou-nos a importância do golpe abortado na Turquia.

Apoiantes  do Presidente Recep Tayyip Erdogan. Istambul. 16 de Julho de 2016
Apoiantes do Presidente Recep Tayyip Erdogan. Istambul. 16 de Julho de 2016 REUTERS
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As autoridades turcas anunciaram que não terão compaixão pelos militares e seus apoiantes , envolvidos no golpe abortado do dia 15 de Julho 2016 . O Primeiro-Ministro Binali Yildirim propôs a emenda da Constituição , de forma a que os militares golpistas possam ser condenados a morte. De acordo com o Ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag ,cerca de 6000 pessoas implicadas no golpe foram até a data detidas. Bozdag, declarou que o número de prisões ultrapassará sem dúvida o atrás mencionado porque as investigações sobre o golpe de sexta-feira à noite prosseguem. Num discurso efectuado na mesquita Fatih durante o funeral de vítimas do golpe,o Presidente Recep Tayyip Erdogan acusou mais uma vez o líder espiritual turco exilado nos Estados Unidos, Fethullah Gulen, de estar na origem do golpe de Estado e reiterou a sua vontade de sanear todas as esferas do Estado Turquia.

 

Vários países parceiros da Turquia,entre eles a França, a Alemanha e os Estados Unidos lançaram um apelo ao Presidente Erdogan, para que as investigações e eventuais condenações sejam efectuadas dentro de um quadro legal. Segundo o chefe da diplomacia francesa, Jean-Marc Ayrault, o golpe de Estado que fracassou na Turquia não significa um cheque em branco para o Presidente Erdogan realizar purgas. O Chefe de Estado turco afirmou no sábado que seria impiedoso para com os que tentaram derrubar a democracia no seu país. Os directamente visados são alguns generais das Forças Armadas turcas, dos quais, segundo o canal de televisão NTV, 34 quatro já foram detidos. Entre estes contam-se designadamente Erdal Ozturk, comandante da terceira região do Exército turco, assim como Adem Huduti, chefe das forças turcas da segunda região com base em Malataya.

 O Presidente Erdogan que considerou a derrota do golpe de Estado uma vitória para a democracia, poderia futuramente implementar medidas visando transformar constitucionalmente a Turquia num regime de carácter presidencial. De acordo com os analistas,Erdogan, cujo partido, AKP( Justiça e Desenvolvimento) defende um modelo político e social de inspiração islamita ,aspira deter vastos poderes, o que lhe pode ser conferido por intermédio de um regime presidencialista. O Chefe de Estado turco que foi acolhido triunfalmente pelos seus partidários e apoiantes após o fracasso do golpe de Estado, é de agora em diante tido como o homem providencial da Turquia,aonde não obstante, os seus adversários nacional-kemalistas(discípulos de Mustafa Kemal Atatürk, pai e primeiro Presidente da Turquia moderna em 1923) ainda terão uma palavra a dizer, na nova etapa da história da República euro-asiática.

 Segundo, Raúl Braga Pires, especialista em questões do norte de África e Médio-Oriente e investigador do CINAMIL(Centro de Investigação e Inovação da Academia Militar Portuguesa), o  golpe de Estado  que  abortou na Turquia  simboliza o choque de dois conceitos de democracia, o reivindicado pelos golpistas que desejam a "deserdoganização" do  país e o representado por  Recep Tayyip Erdogan, que  através da sua agenda política visa exercer os poderes de um sultão.

 

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Entrevista Raul Braga Pires

 

Raúl Braga Pires, investigador português do mundo muçulmano analisa aqui o olhar dos países ocidentais sobre um parceiro turco cada vez mais incómodo.

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Raúl Braga Pires, investigador português do mundo muçulmano

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