André Glucksmann: o adeus do humanista insatisfeito

Intelectual humanista e do comprometimento , o filósofo francês André Glucksmann faleceu na noite de segunda para terça-feira em Paris, aos 78 anos de idade , após um longo período de doença. Figura de proa do movimento dos "novos filósofos" franceses que emergiu no final da década de 70 do século vinte, Glucksmann foi também o militante que evoluiu do maoismo ao atlantismo.

O filósofo francês Andre Glucksmann em 1995. AFP / Pierre Boussel

 André Glucksmann, segundo o seu filho e cineasta Raphaël Glucksmann, vivia num mundo de ideias e lutas". Confissão de judaica na França ocupada pelos nazis nos anos 40, o filósofo escapou in extremis ao genocídio levado a cabo contra os judeus. A sua mãe retirou-lhe do comboio que o devia levar para os campos de concentração nazis na Alemanha, onde morreram milhares de judeus.

   Nascido em 19 de Junho 1937 em Boulogne-Billancourt de pais judeus de origem austríaca , Glucksmann, logo após ter obtido o seu diploma em filosofia tornou-se em fins dos anos 60, assistente do intelectual liberal Raymond Aron na Universidade de Sorbonne. Na época nascia o movimento estudantil de Maio de 68, no qual ele participou alinhado aos maoistas

 Em 1975, marcado pelo livro "Arquipélago do Goulag " de Alexandre Soljenitsyne , ele rompeu espectacularmente com o marxismo ,ao publicar "La cuisinière et mangeur d'hommes". A obra que vendeu milhares de exemplares , provoca um choque , porque na época, os ataques frontais contra a ideologia comunista eram bastante raros.

 Considerando que havia uma cumplicidade entre alguns intelectuais russos e ocidentais no respeitante ao silêncio sobre os campos de concentração na Rússia André Glucksmann afirmava o seguinte:

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André Glucksmann

No seu combate intelectual, André Glucksman formará com Bernard Henri-Lévy ,Pascal Bruckner e Alain Finkielkraut nos anos 75, o movimento dos novos filósofos , uma corrente de pensamento que marcava a sua ruptura com o marxismo.

 Em 1977, ele conseguirá reunir duas figuras antagónicas da vida intelectual francesa, o esquerdista Jean-Paul Sartre e o liberal Raymond Aron , para que estes intercedessem junto do presidente Valéry Giscard d'Estaing, a favor dos refugiados vietnamitas, os então chamados "boat people".

A sua fase mais polémica foi a chamada de atlantista, durante a qual ele defendeu entre outras, a intervenção da NATO, na Primavera de 1999 na ex-Jugoslávia contra o regime sérvio da Slobodan Milosevic.

 O filósofo cuja visão da vida foi modelada pelo facto de ter escapado à solução final do nazismo, escreveu mais de vinte livros, dos quais os mais célebres foram " La cuisinière et le mangeur d'hommes"( "A cozinheira e o devorador de homens". 1978 Afrontamento) e "Les Maîtres Penseurs" (Os Mestres Pensadores. 1978 D. Quixote).

  Humanista convicto , André" Glucksman defendeu também em 2013 a comunidade cigana de França, considerando que o tratamento dado à mesma pelo Estado francês não respeitava os preceitos republicanos.