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EXPO 2015

Expo Milão: um laboratório aberto ao debate ?

Um dos objectivos da Expo de Milão desde a abertura a 1 de Maio foi favorecer o diálogo entre os diferentes sectores da sociedade por forma a procurar soluções visando um desenvolvimento sustentável, uma herança para as gerações futuras. A alguns dias do encerramento, a 31 de Outubro, terá o objectivo sido alcançado ?

Pavilhão de Itália na Expo Milão 2015
Pavilhão de Itália na Expo Milão 2015 RFI
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Era a primeira vez que uma Exposição universal se apresentava como laboratório visando reflectir sobre os temas que preocupam a sociedade a todos os níveis. Um exemplo entre outros: como garantir a alimentação para o horizonte de 2050 e ou como impedir a destruição dos ecossistemas. Em síntese, o que fazer ? O nosso papel é tentar deixar e garantir aos nossos descendentes uma herança digna desse nome onde poderão viver de forma decentemente ou mesmo melhor.

Com vista a alimentar esta reflexão a Expo de Milão tinha convidado os representantes de diferentes sectores da sociedade que "habitualmente não debatem, mas se confrontam", explica Alessandro Mancini, director da Expo. «Ter duas empresas como a Coca-Cola e a Mc Donald é muito importante para alimentar um debate. (…) « O facto que a Coca-Cola, no seu pavilhão, distribui só Coca light e Coca zero, sem açúcar, significa que eles progridem e equacionam fazer coisas mais duradouras. Por outro lado, a Mc Donald optou por uma estratégia neste sentido que não está assente na pecuária intensiva nem num tratamento com hormonas, além disso, propõe agora hamburgers vegetarianos, que estão a introduzir actualmente no mercado italiano», sublinha.

E os responsáveis políticos ?

«Acho que é fundamental que todos os actores da sociedade se interessem por estes assuntos, encaminhem as suas estratégias e encontrem um terreno de entendimento por forma a conseguir-se as soluções adequadas. Estamos perante uma população mundial que atingirá mais de nove mil milhões de habitantes e que se pode tornar insustentável para a terra. Daí achar que os políticos, também, se devem interessar por isso e redobrar os seus esforços», acrescentava Alessandro Mancini.

As multinacionais:

A Macdonald não quis receber a RFI aquando da nossa visita à Expo, no mês de Maio, por seu lado a Coca-Cola acolheu-nos no seu pavilhão « integralmente construído com materiais recicláveis dos seus produtos», foi-nos dito.

«Toda a gente julga que a Coca-Cola é 100% americana. O que ninguém sabe é que nós somos uma multinacional que produz localmente. Fabricamos o que vendemos em cada um dos países onde estamos presentes. Isto significa que temos um impacto sócio-económico nestes países», pormenoriza Cristina Broch, gerente de relações públicas e corporativas da Coca-Cola.

«Durante a Expo os visitantes descobrirão que a Fanta laranja foi criada há 60 anos em Nápoles, este produto contém 60% de sumo de laranja e nós tentamos utilizar o maior número possível de ingredientes locais », detalha Cristina Broch.

No contexto mega-ecológico da Expo a Coca-Cola não tem a impressão de estar a destoar ?

«De todo», afirmara Cristina Broch. «  A Expo é o lugar ideal para que todos os actores possam dialogar e é por isso que cá estamos. Julgamos que este desafio não pode ser alcançado com um único actor. As soluções devem vir dos governos, das empresas e da sociedade civil.  Por isso esta Expo é o lugar ideal para viabilizar encontros e debates sobre como melhor preservar o ambiente no futuro».

Como explicar ao público que beber Coca-Cola não é perigoso para a saúde ?

«Não há bebidas boas ou más. Todos os alimentos e bebidas são bons. Tudo depende da quantidade consumida e do equilíbrio de cada um. Não se trata de cometer excessos. E isto aplica-se tanto aos alimentos, como às bebidas», de acordo com Broch.

As ONG têm o seu lugar na Expo

 

As organizações não-governamentais têm o seu próprio local na Expo. Entre elas a Escola Internacional Kit que acolhe no seu pavilhão os militantes de várias ONG como Giovanni Morisi da associação AIFO.

«Parece-me normal que os dois mundos se encontrem, os ricos como Mc Donald e Coca-Cola e os mais pobres, como os produtores locais. O importante é que estes mundos estejam presentes aqui et se encontrem. No meio as ONG propõem soluções e facilitam o diálogo», comentava Morisi.

« Há espaços que estão entre uns e outros, entre as grandes empresas alimentares e as pequenas produções tradicionais, e para isso o trabalho das ONG é importante para poder debater, criar um espaço para que ambas as partes se encontrem, comuniquem e resolvam os problemas, encontrem novas soluções que sejam positivas para a sociedade e para resolver as diferenças e os preconceitos entre os dois campos», explica o militante da AIFO.

«Por exemplo a Mc Donald tem fama junto do público de produzir comida que engorda ou que mata mesmo as pessoas. Do outro lado eles têm uma política, obviamente por questões de imagem, assente na compra dos seus produtos, carne, peixe, etc a produtores locais É necessário que eles tenham o seu próprio lugar, ainda por cima eles criam empregos e têm meios para realizar coisas interessantes, conclui Morisi.

 

RFI

Um outro registo

Do seu lado Delizia del Bello, da associação internacional Bio-District julgava « que dialogar com as multinacionais não é fácil porque ele não têm nenhum interesse pela colectividade, a terra ou os agricultores". (…) « De maneira geral há muitas perguntas como a apropriação de terras de pequenos camponeses e a soberania alimentar ».


O balanço do laboratório

Alexandre Mancini, director da Expo de Milão: « o debate é a basse para um local como a exposição, onde eas pessoas vêm não só para ver coisas maravilhosas, mas também para reflectir sobre o que poderá ser um futuro melhor para as gerações vindouras. Esta reflexão não pára com o encerramento da Expo, ela vai prosseguir ».

O balanço de Slow Food é relativo:

«Julgamos que ao nível de debates houve um lado positivo e um lado negativo», diz Paolo di Croce, Secretário-geral do Slow Food.

«O menos positivo, como dissemos regularmente, é que o verdadeiro debate sobre o futuro da alimentação, como se pode lutar contra a fome e as desigualdades não foi o tema principal deste acontecimento, porque há muitos pavilhões de diversos países que se concentraram muito mais na arquitectura, na encenação e no impacto visual em relação aos visitantes, e não tanto no debate em torno de assuntos importantes ».

« Não me parece que tenhamos encontrado uma solução. Não recebemos apoios suficientes da parte dos governos para garantir um futuro melhor. Parece-nos também que a Expo devia ter gasto menos dinheiro na construção dos pavilhões e podia ter investido mais na reflexão das soluções para ajudar as pessoas à volta do mundo que não têm uma alimentação sadia ou que não têm suficientemente de comer. É mesmo uma pena ! », revela di Croce.

« Por outro lado acho que tivemos muita gente, muitos visitantes, sobretudo nestes últimos meses, isso significa que há muita gente interessada por assuntos como: como alimentar a humanidade no futuro ? Espero que alguns tenham percebido a necessidade de mudar os modos de produção bem como nas mentalidades e nos hábitos dos consumidores ».

« Espero também que os que vieram cá se tenham ido embora convencidos da necessidade de comer uma comida diferente, de reflectir no que comemos, procurar produtos de qualidade ; ler a etiqueta de um produto para conhecer a respectiva proveniência. Acho que é positivo, mesmo se perdemos uma enorme oportunidade para educar as pessoas e transmitir-lhes a mensagem correcta. »

« Houve, por isso, algo de positivo porque há muita gente, mas o que foi menos positivo foi o facto de termos perdido uma oportunidade », conclui o secretário-geral da Slow Food.

O desafio da Expo de Milão é fazer com que após o fecho a 31 de Outubro a reflexão continue.

Silvia Celi, redacção em espanhol
 

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