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África do Sul/Marikana

Massacre de mineiros: polícia sul-africana reconhece possível erro

A polícia sul-africana reconheceu nesta segunda-feira que a maioria dos 34 grevistas abatidos no dia 16 de agosto na mina de platina de Marikana (norte do país) foram mortos quando as forças da ordem perseguiram os fugitivos, e não excluiu a possibilidade de erro por parte de seus agentes.

A comunidade mineira de Marikana, apelidada a "colina do horror", durante uma homenagem aos mineiros mortos em agosto.
A comunidade mineira de Marikana, apelidada a "colina do horror", durante uma homenagem aos mineiros mortos em agosto. REUTERS/Siphiwe Sibeko
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Diante da comissão de inquérito ordenada pelo presidente Jacob Zuma para esclarecer essa tragédia, o advogado da polícia, Ishmael Semenya, explicou que "a situação estava fora de controle". "Não houve intenção de matar por parte da polícia", disse ele na presença do chefe da polícia sul-africana, Riah Phiyega.

O massacre foi, segundo ele, "uma resposta ao perigo iminente diante do qual se encontravam os policiais". A polícia sempre afirmou ter agido em legítima defesa, mas havia se recusado a fazer qualquer comentário enquanto a investigação ainda estava sendo realizada.

No entanto, o advogado deu razão nesta segunda-feira a testemunhas e jornalistas que afirmavam que a polícia havia perseguido os manifestantes nas colinas vizinhas após o massacre transmitido ao vivo pela televisão.

Durante esse tiroteio, "16 manifestantes morreram", declarou o advogado, reconhecendo de fato que os outros 18 mineiros foram mortos em seguida.

O advogado Semenya não respondeu diretamente àqueles que acusaram os policiais de terem assassinado os mineiros a sangue frio. Mas para oito das vítimas, para as quais os relatórios balísticos ainda não estão disponíveis, "as provas poderiam mostrar que a resposta da polícia pode ter sido desproporcionada", reconheceu ele.

Certos policiais abriram fogo porque acreditavam que estavam atirando em seus colegas, explicou o advogado, descrevendo durante cerca de vinte minutos uma batalha confusa entre rochedos e arbustos.

A maior parte das vítimas não respondeu aos tiros de intimação, enfatizou o advogado, acrescentando que uma delas havia ameaçado um policial com uma lança e por pouco não o acertou.

Mediação

Ishmael Semenya explicou que nos dias anteriores ao massacre a polícia tentou mediar o conflito e desarmar os manifestantes, que se recusavam a abandonar suas armas tradicionais: machadinhas, bastões e lanças.

No dia 16 de agosto, os policiais decidiram usar balas reais depois que o gás lacrimogênio, os canhões de água e as balas de borracha se mostraram insuficientes. "Os policiais da unidade de reação tática abriram fogo com balas reais sem terem recebido ordens para isso", reconheceu o advogado.

Ele observou que a polícia encontrou duas armas de fogo no local onde caíram as primeiras 16 vítimas, e três outras mais tarde.

Os confrontos não fizeram vítimas entre os policiais, que até agora não sofreram nenhuma consequência. O balanço entre os manifestantes foi de 34 mortos, 78 feridos e 270 detidos.

Ishmael Semenya reconheceu que as forças de segurança certamente não estavam suficientemente formadas para enfrentar uma multidão hostil e armada. "Essa tragédia poderia ter sido evitada se as partes envolvidas tivessem exercido seu verdadeiro papel", lamentou ele. O advogado acusou principalmente a direção da mineradora Lonmin, o grupo britânico que explora a mina de Marikana, que se recusava a dialogar com os grevistas.

Os eventos de Marikana deixaram ao total 46 mortos. Dez pessoas morreram entre os dias 10 e 12 de agosto em acertos de contas entre os mineiros, incluindo dois policiais e dois seguranças da mina. Os 28 mil funcionários da mina de platina retornaram ao trabalho no dia 20 de setembro após seis semanas de greve, tendo obtido aumentos de salário que vão de 11 a 22%.

 

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