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Japão/ tragédia

Continuam tentativas para resfriar as centrais nucleares japonesas

Seis dias após ser atingido por um forte terremoto e um tsunami, o Japão usa todos os meios possíveis para tentar controlar os problemas em diferentes reatores da central nuclear de Fukushima e evitar uma catástrofe nuclear de grande extensão. As próximas 48 horas são consideradas cruciais para evitar uma tragédia das proporções de Chernobyl, o acidente nuclear de 1986, considerado o mais grave da história.

Neve torna o trabalho das equipes de socorro ainda mais difícil no Japão.
Neve torna o trabalho das equipes de socorro ainda mais difícil no Japão. Reuters
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Já passa de 5 mil o número de mortes confirmadas pela tragédia. Na manhã desta quinta-feira os esforços se concentram no reator de número 3. Helicópteros e dois caminhões especiais do Exército são usados para despejar água para resfriar o reator, uma prioridade estabelecida pela Tepco (Tokyo Electric Power), a empresa responsável pelas operações da central nuclear. Outros cinco caminhões-cisternas foram enviados ao local, com trinta toneladas de água, para participar das operações.

No reator 4, a unidade de estocagem de combustível usado foi atingida por dois incêndios consecutivos e devido a vaporização da água, dejetos radioativos podem ser lançados diretamente na atmosfera, alertaram as autoridades japonesas.

A operadora tenta restabelecer a eletricidade para voltar a acionar o sistema de resfriamento dos reatores. Com helicópteros do tipo Tchinouk, o Exército já despejou mais de 30 mil litros de água sobre os reatores 3 e 4. Ninguém pode afirmar se a operação pode ser bem sucedida.Na quarta-feira, pilotos foram impedidos de decolar com os helicópteros devido aos altos índices de elemetos radioativos. Os aparelhos não são protegidos contra a radiação.

A situação crítica da central de Fukushima foi apresentada pelo presidente da Agência de Segurança Nuclear dos Estados Unidos aos deputados americanos. Segundo Gregory Jaczko, a unidade de resfriamento do reator 4 pode estar seca. E uma segunda unidade do reator 3 poderia registrar vazamentos, o que segundo os especialistas, poderiam aumentar a emissão de radioatividade.

As dezenas de funcionários da empresa Tepco que estão no interior da central tentando resfriar os reatores já são tratados como heróis no Japão, já que sacrificam suas vidas para evitar uma catástrofe nuclear. O primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, elogiou a coragem dos trabalhadores que "estão se esforçando ao máximo, sem mesmo pensar no perigo", disse ele. Vários funcionários das Tepco que foram retirados da central no início da crise, apresentaram-se voluntariamente quando a empresa que opera a central pediu reforço para combater os problemas nos reatores.

Segundo especialistas, os funcionários de Fukushima estão expostos a um "risco significativo" devido ao alto nível de radioatividade no local. Na terça-feira o nível de radioatividade perto do reator 3 era de 400 millisieverts por hora. Um funcionário que ficar uma hora exposto a estes níveis recebe doses de raios ionizantes 20 vezes maior do que o autorizado pelos trabalhadores em reatores nucleares da França. A Tepco e a Agência de Segurança Nuclear do Japão foram duramente criticadas por um alto funcionário do ministério japonês da Defesa após militares terem ficado feridos durante uma das operações.

País havia sido alertado sobre o risco

O diretor-geral da AIEA, a Agência Internacional de Energia Atômica, Yukiya Amano, confirmou os estragos nos reatores 1, 2 e 3. Ele deve chegar ao Japão nesta quinta-feira para conferir de perto a situação que ele qualifica de "muito grave" e deverá ter encontros com as autoridades locais. Na volta a Viena, sede da AIEA, Yukiya disse que vai convocar uma reunião de emergência com o conselho dos governadores da Agência.

A Agência Internacional de Energia Atômica teria alertado o Japão há dois anos que um forte terremoto poderia causar "sérios problemas" as suas centrais nucleares, segundo informações obtidas pelo site WikiLeaks e publicadas pelo jornal britânico The Telegraph.

Uma mensagem de um diplomata americano revelou que um especialista da AIEA expressou sua preocupação com o fato de que os reatores japoneses foram construídos para resitir a tremores de terra de uma magnitude até 7 na escala Richter. O terremoto da sexta-feira foi de 8.9 na mesma escala.

No documento, um responsável da Agência indicou durante uma reunião do G8 em Tóquio que os critérios de segurança no Japão estavam obsoletos. "Ele explicou que as normas de segurança haviam sido apenas revisadas 3 vezes em 35 anos e que a AIEA estava promovendo outra revisão", segundo a nota diplomática. "O responsável também indicou que terremotos recentes tinham sido registrados acima dos limites previstos para algumas centrais nucleares e que se tratava de um problema sério que estava condicionando os trabalhados de segurança sísmica", dizia a mensagem.

O governo japonês reagiu construindo uma central de atendimento de urgência na central de Fukushima, concebida para suportes terremotos de até 7 na escala Richter.

Crise humanitária

Além da ameaça nuclear o Japão vive uma crise humanitária sem precedentes. Há estimativas de que o terremoto e o tsunami de sexta-feira tenham deixado mais de 10 mil mortos. Segundo o governo mais de 8,6 mil pessoas estão desaparecidas.Equipes de socorro trabalham na região costeira do nordeste do país na busca por sobreviventes. A neve que atinge parte do Japão dificulta o trabalho. Cerca de 850 mil pessoas estão sem eletricidade e enfrentam temperaturas baixas

Vários países recomendaram a seus cidadãos a deixar a região norte do Japão e também a capital, Tóquio.
O governo americano pediu que os americanos fiquem distantes pelo menos 80 quilômetros da região de Fukushima e autorizou os parentes de seus funcionários na Embaixada a deixar o país.

O governo da França enviou dois aviões extras para ajudar a repatriar os franceses que vivem no Japão. Segundo o primeiro-ministro, François Fillon, cerca de 2 mil franceses continuam em Tóquio. Normalmente, 5 mil franceses vivem na capital japonesa e 9 mil em todo o país.
 

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