Primeira condenação em Portugal por mutilação genital feminina
3 anos de cadeia efectiva, esta foi a pena atribuída a uma cidadã guineense residente em Portugal pelo Tribunal de Sintra nesta sexta-feira. Rugui Djaló não teria, segundo o tribunal, demonstrado arrependimento por ter feito praticar a excisão à filha de um ano durante uma viagem à Guiné-Bissau em 2019.
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Em Portugal a justiça condenou esta tarde a mãe de uma menina alvo de mutilação genital na Guiné-Bissau a 3 anos de cadeia, a defesa promete recorrer desta sentença inédita em território luso.
O juiz presidente do colectivo do Tribunal de Sintra sublinhou que a excisão "é uma flagrante violação de direitos humanos" e enfatizando tratar-se de "uma mãe que atenta contra a própria filha" tendo premeditado para o efeito uma viagem à sua terra natal.
Maimuna Djaló tem agora 3 anos e ao voltar a Portugal em 2019 tinha sido atendida no sistema de saúde para uma infecção urinária que se provou ter sido provocada por uma excisão.
A mãe, da etnia fula, alegou no tribunal, porém estar pronta a dar a "minha vida pela minha filha".
João Maria Goudiaby, médico de origem guineense radicado em Portugal, acredita que este é apenas o primeiro de vários casos que poderão acontecer por, muitas vezes, a tradição vir a impor-se à legilslação vigente, apelando à educação para mudar as mentalidades.
João Maria Goudiaby, médico de origem guineense em Portugal, 8/1/2021
"Não demonstrar qualquer arrependimento é natural uma vez que se isso faz parte da tradição, embora já proibida, provavelmente essa senhora deve ter sofrido a mesma coisa... Não sei, mas é uma coisa que está incutida nas pessoas".
Questionado sobre se a tradição seria superior à lei o médico, que na Guiné-Bissau tinha trabalhado na sua terra natal em serviços de pediatria e saúde materno-infantil, refere que "na cabeça das pessoas, infelizmente sim, como abolir isso ? É éducar as pessoas !"
"Tenho amigas da etnia (que praticam a excisão) que na altura sofreram a mesma coisa, e que vivem aqui em Portugal, formadas, e que não fariam e não fizeram às filhas a mesma coisa."
A excisão é uma prática comum em várias latitudes africanas, junto de sociedades de tradição muçulmana, que pode implicar sérias consequências físicas e psicológicas para as meninas, incluindo a morte, consistindo na retirada de partes genitais.
"As pessoas podem morrer da hemorragia, da dor, podem morrer na hora, no sítio e podem morrer da infecção", sintetiza o médico.
Jorge Gomes da Silva, advogado de defesa considerou à agência noticiosa Lusa que o “tribunal foi mais duro” do que devia e, por isso, admite recorrer da sentença que qualificou como "dissuasora" que pretenderia evitar práticas destas no futuro.
Jorge Gomes da Silva, advogado da mãe condenada pelo Tribunal de Sintra, Portugal
De acordo com a agência noticiosa Lusa metade das guineenses teriam sido excisadas.
Em Portugal viveriam 6 500 mulheres excisadas, numa prática efectuada no estrangeiro, na sua maioria tratam-se de senhoras oriundas da Guiné-Bissau.
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