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Nobel de Economia para o francês Jean Tirole provoca debate entre especialistas

A imprensa francesa analisa nesta terça-feira (14) a atribuição do prêmio Nobel de Economia ao francês Jean Tirole, fundador da escola de economia da Universidade de Toulouse (Toulouse School of Economics). O jornal Libération ouviu dezenas de especialistas para entender se Tirole pode ou não ser classificado como um economista liberal.

O francês Jean Tirole, prêmio Nobel de Economia 2014.
O francês Jean Tirole, prêmio Nobel de Economia 2014. REUTERS/Fred Lancelot
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O francês Jean Tirole, de 61 anos, é um pesquisador discreto que raramente aparece na mídia, mas é "hiperprolixo" em seus estudos sobre o Estado e os mecanismos de regulação dos mercados. O prêmio Nobel representa mais uma linha em seu extenso currículo de 24 páginas, descreve o jornal Libération.

A economista francesa Esther Duflot, especialista em políticas de combate à pobreza e integrante da equipe de conselheiros do presidente Barack Obama para questões de desenvolvimento, define Tirole como um "economista liberal que acredita nas virtudes da concorrência e conhece suas limitações melhor do que muitos críticos".

O júri do Nobel justificou a escolha do francês afirmando que seus estudos ajudaram os governos a compreender de que maneira o Estado pode encorajar grandes grupos a se tornarem mais produtivos, sem, ao mesmo tempo, massacrar as pequenas empresas, causando prejuízos à concorrência e aos consumidores.

Libération descreve Tirole como símbolo do engenheiro "à la française". Ele é doutor em matemática formado em escola politécnica de engenharia, com passagem pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), em Boston. "Um engenheiro que não se contenta em construir uma ponte, mas tenta dar à obra uma dimensão social", afirma Alexandre Delaigue, do blog Econoclastes.

Pierre-Yves Geoffard, diretor da Escola de Economia de Paris, diz que Tirole mantém uma postura de desconfiança em relação aos mercados e tenta ter uma visão positiva do papel do Estado.

"Se Tirole justifica a intervenção do Estado para corrigir imperfeições encontradas principalmente nos mercados de quase-monopólio, seus trabalhos vão mais além no sentido em que ele tenta mostrar que aquele [Estado] que tenta corrigi-las [as imperfeições] também é imperfeito", acrescenta François Levêque, do Centro de Economia Industrial de Minas Paris Tech.

"É um intervencionista, não um defensor da autoregulação dos mercados", exalta Jean-Paul Fitoussi, da universidade Sciences-Po. "Tirole deu contribuições determinantes para a regulamentação dos mercados de bens públicos mundiais, principalmente em setores que falham se não há intervenção do Estado", avalia Fitoussi.

Colega de comissão critica escolha

Mas nem todos estão de acordo com a premição da academia sueca. Dominique Plihon, colega de Tirole no Conselho de Análise Econômica, órgão que dá assessoria ao governo francês, considerou "uma tristeza" recompensar "um microeconomista cujos trabalhos foram descreditados pela crise".

Segundo Plihon, o Nobel de Economia tem uma visão limitada da regulação. "Abordar a regulamentação financeira e bancária por um ângulo puramente microprudencial é um erro fundamental", afirma.

"Até a crise, Tirole dizia que o conceito de crise sistêmica não fazia sentido. Por terem ignorado esse cenário e deixado à microeconomia a regulação dos mercados, a crise foi tão forte. Os atores, interconectados entre eles, quase acabaram com o sistema bancário", conclui Plihon.

Terceiro francês premiado

Essa é a terceira vez que um francês recebe o Nobel de Economia, depois de Gérard Debreu, em 1983, e Maurice Allais, em 1988. Fazia seis anos que o prêmio não era atribuído a somente um pesquisador. Os vencedores do ano passado foram os americanos Eugene Fama, Lars Peter Hansen e Robert Shiller.

Tirole nasceu em Troyes, filho de um pai médico e uma mãe professora de literatura. Ele estudou engenharia, matemática e começou a se interessar pela economia aos 21 anos. Depois de terminar seu doutotrado no MIT, de volta à França, em 1991, ele foi um dos fundadores do Instituto de Economia Industrial da Universidade de Toulouse. Em 2007, o pesquisador foi o segundo economista a receber a medalha de ouro do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês).

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