Jornais franceses apoiam investida americana no Iraque
O bombardeio que marcou o início de uma nova ação militar americana no Iraque, iniciada na sexta-feira (8), foi aprovado de maneira geral pelos principais jornais franceses deste sábado (9). Até mesmo Libération, de esquerda e tradicionalmente crítico aos EUA – embora não a Obama – preferiu destacar, em sua matéria principal, o mal que os jihadistas estão causando às minorias do Curdistão iraquiano.
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“O grupo jihadista que gangrena a Síria e o norte do Iraque impõe por meio da força um controle sobre todos os aspectos da vida cotidiana”, descreve o repórter do Libération na região. “O momento é suficientemente grave no Iraque para que Barack Obama ordene ataques direcionados”, diz o jornal, que completa: “A urgência e a ameaça justificam as intervenções ocidentais”.
Mais cético, o Le Monde diz que é preciso lembrar que a perseguição aos cristãos não começou agora no Iraque, e a verdade incômoda é que eles sofrem há mais de 30 anos, inclusive com guerras que tiveram a participação do Ocidente, como a Guerra Irã-Iraque (1980-1988) – que teve a França à frente.
Para o Le Monde, a única maneira de garantir a segurança dos cristãos no Iraque é apoiar o governo autônomo curdo, “que é o único a oferecer, já há uma década, um refúgio seguro a esta comunidade perseguida e a garantir os seus direitos. Neste momento, salvar os cristãos do Iraque é ajudar o Curdistão”.
Frédéric Encel: "Primavera Árabe despedaçou Estados da região"
Le Figaro, habitualmente mais crítico a Obama, ironizou: “Se Obama achava que bastaria fazer as malas e ir embora para que a América não tivesse mais que sujar as mãos no Iraque, se enganou”.
O jornal conservador diz que a situação remete Obama à “fórmula Colin Powell”, ex-secretário de Estado, de antes da invasão do Iraque: “If you break it, you own it”. Ou seja, o que você destruiu vai lhe pertencer e você se tornará responsável – a citação aqui, involuntária, é também ao Pequeno Príncipe.
O popularesco Aujourd'hui en France entrevistou o professor da renomada escola de ciência política Sciences-Po, de Paris, Frédéric Encel, para compreender de que forma os atuais conflitos em Gaza e na Ucrânia se relacionam com a situação do Iraque.
Encel disse que, paradoxalmente, Estados Unidos e Rússia se unem em seu repúdio aos muçulmanos sunitas - grupo dos jihadistas que infernizam o Iraque atualmente. Ele lembra que cerca de 20 milhões de sunitas vivem na Rússia, e Putin teme que eles se redicalizem. Encel também considera que há o risco de vermos se despedaçar de forma dramática cada um dos estados árabes da região, com a emergência de uma nova construção política baseada no clanismo. "A Primavera Árabe reforçou esta evolução".
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