Dilma quer diálogo com Argentina para superar entraves comerciais

Diante da possibilidade de a Argentina aplicar represálias contra a empresa brasileira Vale do Rio Doce, como multas ou a perda da concessão de exploração de jazidas de potássio, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira, dia 25 de abril, que "o diálogo é o melhor caminho para a solução". O acordo que o Brasil defende entre a Vale e governo argentino pode servir tanto para salvar projeto ou evitar represálias à mineradora brasileira.

A presidente brasileira Dilma Rousseff e a presidente argentina Cristina Kirchner na Casa Rosada nesta quinta-feira, dia 25 de abril. REUTERS/Enrique Marcarian

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O pedido de diálogo entre o governo argentino e a empresa brasileira Vale foi feito ao lado da própria presidente argentina, Cristina Kirchner, após sete horas de reuniões aqui na Casa Rosada.

"Tenho a firme convicção de que a empresa brasileira Vale do Rio Doce vai encontrar o caminho para construir o melhor acordo possível com as autoridades aqui da Argentina", acredita Dilma.

A escassez dos investimentos brasileiros na Argentina foi um dos principais assuntos durante as reuniões que incluíram ministros de diversas áreas, além da presidente da Petrobrás, Graça Foster.

A Petrobras é outra que está com um pé para fora da Argentina, após ter sido o maior investimento no país há 10 anos. Já a Vale anunciou em março a decisão de suspender um investimento de quase 6 bilhões de dólares para explorar potássio na província argentina de Mendoza. A mineradora brasileira chegou a investir 2 bilhões de dólares em ativos que, sem diálogo com o governo argentino, podem ser expropriados ou confiscados.

O projeto da Vale era o maior dos últimos anos na Argentina e geraria 6 mil empregos diretos e indiretos. As autoridades preferem que a mineradora reveja a decisão.

"Devemos superar os entraves nas nossas relações comerciais de investimento e parceria. Sabemos que temos de tratar os investimentos de forma respeitosa", explicou Dilma.

A Vale alega que a decisão de suspender o projeto é consequência da "situação macroeconômica" da Argentina. Em outras palavras, custos que aumentam devido à uma inflação galopante (30% ao ano) enquanto o dólar oficial se mantém congelado. A diferença entre o câmbio oficial com o qual exportaria e o paralelo que rege a economia chegou nesta quinta-feira, dia 25, a 77,2%.

Empresários brasileiros têm reclamado do clima de negócios na Argentina. São barreiras comerciais argentinas que há nove anos só aumentam, além de controles cambiais, mudanças nas regras econômicas e jurídicas e a proibição de as empresas realizarem remessas de lucros ao exterior. A empresa de sanitários Deca também anunciou a sua saída da Argentina.

As presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner também anunciaram que os técnicos dos dois países vão se reunir na próxima terça-feira em Montevidéu, no Uruguai, para continuarem com negociações que superem os entraves no comércio e nos investimentos.

Nos dois discursos que deu no dia, tanto para a imprensa quanto para empresários e autoridades durante jantar também na Casa Rosada, Dilma Rousseff chamou Cristina Kirchner três vezes por "Minha querida amiga, Cristina". Enquanto Dilma pediu um brinde pela sua "querida amiga", Cristina preferiu brindar "pela integração".

Ambas as presidentes destacaram as eleições democráticas que abrem as portas para o regresso do Paraguai ao Mercosul e à Unasul, após a suspensão como consequência de uma "ruptura da ordem democrática" devido ao processo relâmpago do ex-presidente Fernando Lugo há um ano.

"Esta aliança [Brasil e Argentina] tem sido um fator de progresso e de estabilidade para a América do Sul e para a América Latina", concluiu Dilma.