Economista Thomas Piketty recusa Legião de Honra
O governo francês anunciou ontem os indicados para receber a Ordem Nacional da Legião de Honra, a mais tradicional distinção da república francesa, criada por Napoleão Bonaparte em 1802. A condecoração costuma premiar cidadãos destacados em diferentes áreas. O brasileiro ganhador do equivalente ao Nobel na matemática vai receber a Legião de Honra.
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A lista de nomes indicados para receber a condecoração inclui o escritor Patrick Modiano, Prêmio Nobel de Literatura no ano passado, e o matemático carioca Artur Avila, que também tem nacionalidade francesa, e que já havia recebido no ano passado a medalha Fields, considerada o Nobel da Matemática.
Mas a grande polêmica na França é que o economista Thomas Piketty, autor do “Capital no Século 21”, o livro de economia mais vendido no mundo em 2014, se recusou a receber a distinção. Piketty, que foi um dos inspiradores da gestão dos socialistas na França, disse que não cabe ao governo decidir quem é ou não honorável.
Em entrevista exclusiva à RFI, ele deu mais detalhes sobre as suas divergências com o governo de François Hollande e que o levaram à recusa. "O governo atual fez o contrário do que disse enquanto estava na oposição. Estamos na improvisação permanente e acho que isso explica muito o desânimo dos franceses diante deste governo”, disse Piketty.
O economista não poupa críticas à equipe econômica. “É fato que a situação está difícil e é tudo culpa do governo, mas a maneira de administrar estas dificuldades, com improvisação fiscal e orçamentária permanente é uma das causas da impopularidades deste governo. Essa é a hora de retomar o caminho, reconhecer os erros e e ir adiante".
Reação do governo
O ministro para a Reforma do Estado da França, Thierry Mandon, declarou nesta sexta-feira que a recusa de Piketty não foi um ato de “humildade”. "Em geral, há dois motivos para não se querer receber a Legião de Honra: por humildade. Ou seja, porque a pessoa acha que não merece a honra ou por motivos políticos. Não acredito que Thomas Piketty esteja na primeira categoria", afirmou o secretário.
Mandon argumentou ainda que a reforma fiscal defendida por Piketty em seu livro provocaria um “protesto generalizado”. O ministro pondera que a tese do economista é interessante, mas que só seria aplicável em tempos de crescimento econômico, o que está longe de ser o caso da frança atualmente.
Outros intelectuais franceses já recusaram a Legião de Honra, entre eles Jean-Paul Sartre, sua mulher Simone de Beauvoir e o também existencialista Albert Camus.
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