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Brasil/Violência

Assassino do Rio tem perfil típico de autor de massacres, diz socióloga francesa

A RFI entrevistou na manhã desta sexta-feira a socióloga franco-americana Natalie Paton, especialista em massacres cometidos em escolas nos últimos 15 anos. Ela vê semelhanças importantes entre o crime no Rio de Janeiro e os massacres de Columbine (1999) e Virginia Tech (2007), nos Estados Unidos, na Finlândia (2008), na Alemanha (2009) e em Montreal, no Canadá, no início da década de 90.

Câmera de segurança da escola Tasso da Silveira, em Realengo, flagra crianças fugindo dos disparos no Rio de Janeiro.
Câmera de segurança da escola Tasso da Silveira, em Realengo, flagra crianças fugindo dos disparos no Rio de Janeiro. REUTERS
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Segundo a socióloga Natalie Paton, Wellington Menezes de Oliveira tem o perfil típico dos jovens autores de tiroteios em escolas. São rapazes sem antecedentes criminais, que ninguém suspeitaria serem capazes de tal violência até que eles passam ao ato. "Esses criminosos são jovens mais ou menos integrados socialmente, de classe média, moradores de uma zona geográfica sem problemas particularmente graves, mas frequentemente apontados como solitários", constata a pesquisadora. Todos os jovens envolvidos nesse tipo de crime nos últimos 15 anos são calcados nesse perfil, de alguém integrado socialmente, observa Paton.

A socióloga diz que analisando os incidentes posteriores ao tiroteio na universidade americana de Virginia Tech, por exemplo, é impossível ignorar o papel da mídia nesses massacres. "A música que esses jovens ouvem, os filmes que assistem, o tempo que passam navegando na internet são fatores culturais comuns encontrados entre eles", constata.

Ao se investigar as razões que levam esses jovens a cometer atos tão bárbaros, o papel da mídia passa a ter uma influência considerável. Segundo Paton, o fato de esses eventos ganharem uma repercussão internacional acaba difundindo "um modo de ação, um roteiro que outros jovens podem copiar".

Sites hospedam adeptos de massacres em escolas

A especialista francesa observa que nos últimos anos surgiu um outro fenômeno, o dos "fãs" de crimes na internet. Vários sites, segundo ela, hospedam fóruns desses adeptos de massacres. Por tê-los estudado, ela os considera subversivos. "São jovens que se posicionam a favor de atos de violência e, por mais chocante que pareça, aprovam a matança." Analisando esses casos em profundidade, Paton encontrou rapazes revoltados com o sistema capitalista, a ideologia dominante, jovens que na maioria dos casos se construíram em oposição ao modelo dominante. O que seriam sentimentos normais na passagem da adolescência para a idade adulta assumem um caráter anormal pela transformação em ato de violência.

Wellington Menezes de Oliveira matou 12 crianças na escola Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio, sendo dez meninas e dois meninos. Alunos que testemunharam o massacre relataram que o assassino atirou contra as meninas para matar, enquanto os tiros disparados contra os meninos foram para ferir. A socióloga francesa relaciona o crime do Rio com o massacre de Montreal, no início da década de 90, em que um jovem matou apenas estudantes do sexo feminino na faculdade. O assassino canadense estava convencido de que não conseguiu entrar na faculdade por causa da cota de vagas reservadas às mulheres.

No meio acadêmico, diz Natalie Paton, existe um consenso de que quando o massacre visa exclusivamente meninas é um sinal de que o assassino se sente rejeitado pelas mulheres e desconfortável em relação à sua própria imagem de homem. A socióloga francesa estima que é muito difícil prevenir esse tipo de crime.

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