Venda do Le Monde agita setor de telefonia móvel

A venda do jornal Le Monde agita os bastidores do setor de telefonia móvel. O jornal busca uma recapitalização de 100 milhões de euros, mas os novos proprietários têm que assumir o compromisso de garantir a independência editorial de centro-esquerda.

Sede do Jornal Le Monde Reuters

Oficialmente, três grupos são candidatos a comprar o jornal Le Monde, que passa por sérias dificuldades financeiras, com uma dívida acumulada de 69 milhões de euros. Mas ontem, a operadora da internet e telefonia móvel Orange, que tem como primeiro acionista o Estado francês, surpreendeu ao anunciar seu interesse em participar da recapitalização do tradicional jornal francês.

A Orange deve provavelmente se aliar a um dos candidatos declarados, o dono da revista Nouvel Observateur, a mais importante da França. Segundo a imprensa francesa, o interesse inesperado da operadora da internet pela imprensa escrita tem um mandante: o presidente Nicolas Sarkozy. Ao colocar a empresa no páreo, o presidente francês tenta barrar o caminho de um dos candidatos, Xavier Niel, proprietário da Free, uma outra operadora do setor, de quem Sarkozy não gosta, revelou o site da revista Le Point. O presidente francês tentaria assim defender os interesses de um amigo, Martin Bouygues, concorrente direto da Free.

Fofocas à parte, o interesse de Orange pelo Le Monde é real e preocupa os especialistas. Essa seria uma aliança totalmente inédita na França, que criaria um grande grupo de comunicação no país, colocando em risco o pluralismo da imprensa francesa.

Além da possibilidade de a Orange intervir na linha editorial do jornal, a presença da operador no Le Monde quebraria a neutralidade das duas empresas. Outros jornais franceses, como La Tribune e o jornal Le Parisien, também estão à venda e passam por sérias dificuldades por causa da queda das vendas e da concorrência com diários gratuitos e da internet. Essa crise anuncia que a guerra de influência para dominar a imprensa francesa deve continuar.