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Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril arrancam em França

Esta quinta-feira, Lyon foi palco do arranque das comemorações, em França, dos 50 anos da “Revolução dos Cravos” que vão ser marcadas por várias iniciativas em diferentes cidades. O lançamento foi dado com uma conferência em que participaram a antiga ministra da Justiça de Portugal, Francisca Van Dunem, o escritor Ungulani Ba Ka Khosa e o historiador Yves Léonard.

Conferência “50 anos depois: as repercussões mundiais da Revolução dos Cravos”. Lyon, 11 de Janeiro de 2024.
Conferência “50 anos depois: as repercussões mundiais da Revolução dos Cravos”. Lyon, 11 de Janeiro de 2024. © RFI/Carina Branco
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As comemorações começaram com a conferência “50 anos depois: as repercussões mundiais da Revolução dos Cravos”, na Maison Internationale des Langues et des Cultures de Lyon. Na mesa redonda estiveram a antiga ministra da Justiça de Portugal, Francisca Van Dunem, o escritor Ungulani Ba Ka Khosa e o historiador francês Yves Léonard.

Os participantes falaram na génese e nas repercussões mundiais do 25 de Abril de 1974, assim como no contexto internacional em que a revolução aconteceu, nas guerras de libertação e no contributo que estas tiveram para o 25 de Abril. E deixaram o alerta de que se devem tirar lições da história, numa altura em que é contínua a subida dos extremismos.

A RFI falou com Francisca Van Dunem e Ungulani Ba Ka Khosa e estes trabalhos serão publicados, mais tarde, no contexto de várias reportagens sobre os 50 anos do 25 de Abril.

Para já, ficam apenas uns apontamentos das conversas. A antiga ministra da Justiça de Portugal, Francisca Van Dunem, que viveu em Angola até 1973, admitiu, por exemplo, que “o 25 de Abril começou em Angola, em 1961, com a guerra colonial que leva Portugal àquela posição de intransigência”, contrária ao “vento que varre todo o continente africano que inicia o processo de descolonização”.

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Francisca Van Dunem, ex ministra portuguesa da justiça, 11/1/2024

Portugal é refractário a esse processo e demora 14 anos. E são esses 14 anos, é a complexidade desses 14 anos, são as contradições que se geram nesses 14 anos, nomeadamente a recusa à guerra colonial de jovens militares. As pessoas acabavam o curso e iam para a guerra, as pessoas chumbavam um ano e iam para a guerra. Estamos a falar de jovens entre os 21 e os 24 anos que ficavam com a vida destruída. Estamos a falar de uma situação particularmente complexa na perspectiva militar se considerarmos, por exemplo, que na Guiné a guerra estava perdida e o impasse que havia em Angola e em Moçambique”, considera.

Francisca Van Dunem lembrou que, efectivamente, foram os militares que desencadearam a revolução, mas que a origem foi “a guerra, o cansaço da guerra e a consciência de que não há uma saída militar para aquele conflito e que a saída é necessariamente política”.

Por sua vez, o moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa disse à RFI que “os heróis” do 25 de Abril são os povos - o povo português e os povos que lutaram pelas suas independências.

Os heróis de tudo isto são os povos. É o povo português, é o povo moçambicano e os outros que entregaram os seus filhos. Historicamente, naquele período específico, coube a uma geração encetar a luta pela libertação e, no outro lado, coube a uma geração travar a guerra, fazendo o golpe e acabando com o fascismo em Portugal”, explica, sublinhando que “os grandes beneficiados e os grandes heróis nisto são esses povos todos”.

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Ungulani Ba Ka Khosa, escritor moçambicano, 11/1/2024

Esta quinta-feira foi, ainda, inaugurada, na Câmara Municipal de Lyon, a exposição “Portugal: 25 de Abril de 1974: finalmente a liberdade!” comissariada por Jean-François Chougnet e produzida pelo Camões - Centro Cultural Português em Paris e a Embaixada de Portugal em França, com cenografia de José Albergaria.

A exposição quis mostrar “o 25 de Abril visto do lado francês”, disse à RFI o comissário Jean-François Chougnet, explicando que a mostra é composta por painéis e um filme que juntam arquivos oriundos, na maior parte, da imprensa e da televisão francesas. O percurso cronológico começa com as vésperas do 25 de Abril e vai até às eleições legislativas e presidenciais de 1976.

À noite, a Maison de la Danse, dirigida pelo português Tiago Guedes, foi palco do espectáculo “Bate Fado”, da dupla Jonas&Lander, uma reinterpretação do fado boémio e dançado do século XIX para a dança do século XXI e que devolve ao fado o lado subversivo que a ditadura calou.

O arranque oficial das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril aconteceu em Lyon, mas foram agendados vários eventos ao longo de seis meses em diferentes cidades francesas, com ciclos de cinema, conferências, debates, espectáculos, concertos e edição de publicações.

José Augusto Duarte, Embaixador de Portugal em França, sublinhou à RFI que faz todo o sentido celebrar esta data em França, desde logo porque este país teve um papel preponderante ao ter acolhido muitos exilados políticos portugueses.

“Os pais da Constituição democrática portuguesa inspiram-se parcialmente naquilo que é o modelo da Constituição da V República Francesa e porquê este modelo? Porque boa parte da nossa elite política da altura tinha estado refugiada em França. A França era o modelo à esquerda e à direita daquilo que era ser uma democracia, um Estado em liberdade, um Estado de direito onde existem políticas sociais e, portanto, a França era a nossa inspiradora de alguma forma”, recordou o diplomata, reforçando que “nenhum outro país no mundo acompanhou tão de perto a revolução portuguesa como a comunicação social francesa da época”.

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José Augusto Duarte, embaixador português em França, 12/1/2024

“Podíamos pensar que a celebração do 25 de Abril - por ter sido uma revolução em Portugal, feita por portugueses para os portugueses - deveríamos celebrá-la essencialmente em Portugal. Nada de mais errado. O 25 de Abril não se deu sem contributos exteriores e sem influência no exterior. O 25 de Abril dá-se, de facto, por uma situação política em Portugal que necessitava de ser revista e de ser alterada, mas num contexto internacional de grandes convulsões sociais, num contexto de Guerra Fria, num contexto de guerras coloniais que Portugal tinha com vários países africanos já há mais de dez anos”, acrescentou.

Por outro lado, José Augusto Duarte destacou que o 25 de Abril também teve um impacto internacional, como a independência dos países africanos de expressão portuguesa e “a forma como, por exemplo, Espanha encarou depois a transição para o processo democrático e a aprendizagem que fez com o processo português”.

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