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França/EUA

Macron quer travar proteccionismo americano

O Presidente francês, Emmanuel Macron, iniciou esta quarta-feira, 30 de Novembro, uma visita oficial de três dias aos Estados Unidos. A guerra na Ucrânia, as consequências económicas para a Europa e o proteccionismo norte-americano são algumas das questões que vão dominar a agenda de Emmanuel Macron e do Presidente Joe Biden. O analista político Germano Almeida reconhece que a tensão comercial entre a Europa e os Estados Unidos começou com Donald Trump, mas não foi resolvida por Joe Biden.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, iniciou nesta quarta-feira, 30 de Novembro, uma visita oficial de três dias aos Estados Unidos.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, iniciou nesta quarta-feira, 30 de Novembro, uma visita oficial de três dias aos Estados Unidos. AP - Susan Walsh
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RFI: O Presidente francês criticou, durante um almoço com os eleitos para o Congresso, o proteccionismo dos EUA, evocando o projecto de investimento massivo que visa apoiar as empresas para acelerar a transição energética. Emmanuel Macron fala numa iniciativa agressiva. As afirmações do chefe de Estado francês têm fundamento?

Germano Almeida:  Se é verdade que a tensão comercial entre a Europa e os Estados Unidos começou com Donald Trump, a verdade é que ela não foi resolvida por Joe Biden. Se por um lado, há um mesmo posicionamento de valores, em que Macron e Biden são mais próximos do que Macron e Trump, do ponto de vista do proteccionismo económico, sobretudo proteccionismo da indústria americana e dos interesses americanos a esse nível, eu diria que não há assim tanta diferença entre Biden e Trump, como por vezes imaginamos.

A relação com a Europa é um bom exemplo disso. Ou seja, permanece essa tensão na forma como a Europa vê a América, ou seja, cada vez mais protecionista.

Uma das estratégias de Biden para vencer Trump nas eleições americanas foi, internamente, apostar num discurso protecionista do “by american”.

Isto teve consequências na relação com a Europa. Será possível terminar com essa tensão? Refiro-me a um maior alinhamento, estabelecer-se uma relação comercial mais aberta entre os Estados Unidos e a Europa, e não marcada por esse proteccionismo que Macron, na minha opinião, bem identifica.

Apesar dos Estados Unidos e a Europa terem uma posição fundamental de alinhamento, nos valores políticos, multilateralismo, questão climática, ainda existem pontos a resolver.

A questão do preço do gás, cinco vezes mais caro na Europa do que nos Estados Unidos, será outro assunto abordado por Emmanuel Macron. Que concessões podem ser feitas neste domínio e num contexto de guerra na Ucrânia?

Essa é outra questão que decorre da relação dos Estados Unidos com a Europa e que tem de ser diferente. A partir do momento em que há uma assunção de segurança nacional e de defesa externa sobre a independência do gás russo, estamos a ver que a alternativa passa muito pelo gás liquefeito americano, do Qatar e dos países africanos.

Agora, a partir do momento em que os Estados Unidos entram com uma solução, mas mantêm essa discrepância tão grande, que Macron aponta a nível dos preços que cada país paga, então estamos a falar de uma relação que é meramente comercial. Uma relação que não passa por um alinhamento que era suposto existir, uma vez que estamos todos no mesmo barco que é travar a Rússia.

Eu percebo que tenha de haver aqui uma ligação forte entre a parte comercial e a parte política. Não havendo, então as relações entre os Estados Unidos e a Europa não são assim tão boas como poderíamos imaginar.

Emmanuel Macron fez ainda referência à rivalidade entre a China e os Estados Unidos, dizendo que a Europa acaba por ser prejudicada nesta relação “tumultuosa”. A Europa acaba por sofrer efeitos colaterais desta rivalidade?

Sem dúvida. Não há um total alinhamento entre a Europa e os Estados Unidos em relação à China. Na cimeira do G20, que decorreu no passado mês de Novembro, em Bali, na Indonésia, os dois dirigentes políticos falaram com o Presidente chinês, Xi Jinping. Enquanto Joe Biden quis convencer Xi Jinping a criticar e isolar a Rússia, na inaceitabilidade da ameaça nuclear, o Presidente Emmanuel Macron tentou persuadir Xi Jinping a influenciar Vladimir Putin para voltar à mesa das negociações.

São claramente duas abordagens diferentes, insisto, por parte dos dois líderes, Biden e Macron, na relação com a China. Na questão de acabar com a guerra e como fazê-lo. É muito importante que haja um maior alinhamento dos dois líderes que, tendo em conta o aumento da ameaça de terrorismo na Europa e não só, nos parecem alinhados no multilateralismo e na força das democracias liberais. Todavia, permanecem questões que precisam de ser ainda alinhadas.

A questão da Ucrânia será igualmente debatida pelos lideres políticos. O que esperar desta temática?

Emmanuel Macron, mesmo antes do início da guerra, teve sempre a posição de que não haverá solução sem diálogo. A paz não se faz com os amigos, faz-se com os inimigos. Por sua vez, a posição americana defende que não faz sentido falar em paz, se for uma paz injusta. Em que se premiasse o agressor e se esmagasse o agredido.

Infelizmente, o que me parece, é que ainda estamos nesse ponto da guerra e sem condições para ter uma conversa séria, minimamente realista, com o agressor. Também me parece que Macron está a fazer tudo para se posicionar para que, no momento certo, tenha também uma palavra a dizer nesse aspecto.

Voltando ainda à questão da guerra com a Ucrânia, a nível da política de defesa e armamento, o que vemos é, no âmbito da NATO, uma América muito liderante e quando o Presidente Macron sabe que é o chefe de Estado de um país que, de desde o BREXIT, é o único poder nuclear da União Europeia…. Sabemos que Emmanuel Macron pode ter aqui uma agenda própria, ou seja de uma França a falar com os EUA de uma forma que não era igual há uns anos.

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