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França/Presidenciais

Macron e Le Pen, o debate a quatro dias das presidenciais

Marine Le Pen e Emmanuel Macron voltaram esta noite a estar frente-a-frente, cinco anos depois de um debate traumático para a líder da União Nacional.

Emmanuel Macron e Marine Le Pen voltam esta noite a estar frente-a-frente.
Emmanuel Macron e Marine Le Pen voltam esta noite a estar frente-a-frente. AFP - LUDOVIC MARIN
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Desta vez, a candidata de extrema-direita recolheu-se nas 48 horas que antecederam o debate, para evitar erros do passado e somar pontos rumo ao Eliseu. A quatro dias das eleições presidenciais, o debate pode servir de trampolim para um dos candidatos.

21h00, hora francesa, começou o debate. Emmanuel Macron à esquerda do ecrã, Marine Le Pen à direita. 2h30 para dissecar os temas chaves desta campanha.

Neste debate moderada por Léa Salamé, do canal público France 2, e Gilles Bouleau, do canal privado TF1, o poder de compra foi o dossier de partida para este frente-a-frente.

Poder de compra

Marine Le Pen sublinhou ser “a porta-voz dos franceses”, disse que Emmanuel Macron se congratula de ter aumentado o poder de compra da população, mas “eu só vi franceses que me disseram o contrário, que não conseguem chegar ao fim do mês”. Acusou Macron de “criar o imposto carbono e diminuir ajudas essenciais”, nomeadamente "as ajudas ao alojamento”. “Eu quero fazer do poder de compra a prioridade do meu mandato, se os franceses confiarem em mim”, sublinhou a candidata. 

A candidata de extrema-direita quer “reembolsar o dinheiro aos franceses” a um montante de 150 a 200 euros por mês, por família. Le Pen defende “a fiscalidade de forma duradoura”, criticando as medidas provisórias adoptadas pelo Governo Macron como o cheque-energia. A candidata a União Nacional fala numa redução de 20 a 5,5% do imposto sobre a energia, a restituição de 0.5 da parte fiscal aos viúvos e eliminar os impostos sobre os rendimentos aos menores de 30 anos.

Emmanuel Macron sublinhou que no terreno “tem o mesmo retorno [que Marine Le Pen], de cólera, de carrinho de supermercado cada vez mais vazio, de fins de mês cada vez mais difíceis”. O presidente cessante sublinhou que as medidas que propõe são “mais eficazes” do que as da adversária, nomeadamente no campo energético. Macron assume que são “medidas de crise” adoptadas para responder a um momento específico e que deverão ser eliminadas quando a crise terminar. 

O candidato da República em Marcha acusou Le Pen de apresentar medidas simultaneamente “ineficazes e injustas”.

“Nas suas 22 medidas, não aparece a palavra ‘desemprego’. É o reconhecimento do trabalho bem feito nestes cinco anos. Eu agradeço-lhe. A melhor maneira de aumentar o poder de compra, é lutar contra o desemprego!”, sublinhou Emmanuel Macron.

Invasão russa da Ucrânia

Sobre a invasão russa da Ucrânia, Emmanuel Macron evidenciou a sua acção desde o início do conflito: sanções económicas, apoio financeiro da Ucrânia e o envio de equipamento para combater as ofensivas de Moscovo. O presidente cessante sublinha que a resposta deve ser europeia, mas também em acordo com a “China, a Índia e os países do Golfo”.

“Eu considero que a Ucrânia é vítima de uma agressão inadmissível", respondeu Marine Le Pen, que admitiu os esforços feitos pelo adversário e sublinhou que as “vias de paz devem ser apoiadas”. Todavia, a candidata da União Nacional disse ser contra o "bloqueio da importação do gás e do petróleo russo”, argumentando que esse bloqueio “vai prejudicar fortemente o povo francês”.

O candidato da República em Marcha acusou Marine Le Pen de “depender do poder russo” e do presidente Vladimir Putin. “Você foi, penso eu, uma das primeiras responsáveis políticas europeias, desde 2014, a reconhecer o resultado da anexação da Crimeia”, atirou Emmanuel Macron que acusou Le Pen de “depender do poder russo e do presidente Putin”, nomeadamente por ter contraído, em 2014, um empréstimo num banco russo "próximo do poder” de Vladimir Putin.

União Europeia

Para fechar o dossier internacional, os dois candidatos foram questionados sobre a Europa, se gostariam de continuar o projecto europeu tendo o “eixo franco-alemão como motor''. 

Emmanuel Macron começou por lembrar que Marine Le Pen conta sair da União Europeia e sublinhou que acredita “na Europa e no eixo franco-alemão”. 

O presidente cessante ressalvou a política europeia em matéria sanitária, nomeadamente no fornecimento comum de vacinas no seio da União Europeia e na política de “solidariedade financeira” para a "mutualização da dívida futura”, no quadro da gestão da crise da Covid-19, assim como os avanços recentes para construir uma defesa comum europeia. 

“Eu estou convencido de que a nossa soberania é nacional e europeia e que as duas se completam e que é pela Europa que seremos mais independentes”, acrescentou Macron.

Marine Le Pen afirmou não querer sair da União Europeia, como queria em 2017, mas lembrou que “não há soberania europeia, pois não existe povo europeu”. Le Pen considera que Macron quer "substituir" a soberania da França pela soberania da União Europeia. Sem falar no eixo franco-alemão, a candidata deu como exemplo a polémica à volta da bandeira europeia no Arco do Triunfo, no início da presidência francesa da União Europeia, em Janeiro deste ano.

“Eu desejo modificar [a União Europeia] para efectivamente criar uma aliança europeia das nações”, explicou Le Pen, criticando, entre outros, a política europeia agrícola.

Reforma e saúde

Sobre a idade de partida para a reforma, Marine Le Pen é peremptória: “entre 60 e 62 anos, para terem direito a uma reforma integral”. Para a candidata “ a aposentação aos 65 anos é uma injustiça completamente insuportável".

Por seu lado, Emmanuel Macron defendeu o seu projecto de reforma das aposentações, bandeira importante do seu mandato. Reafirmou a necessidade de um aumento da idade legal de reforma para os 65 anos, para equilibrar as finanças das aposentações em consonância com a evolução demográfica do país. Macron repetiu a sua intenção de “passar a reforma mínima de 980 euros a 1100 euros”. 

O candidato criticou ainda Marine Le Pen sobre o financiamento do seu projecto: “ou tem impostos escondidos ou vai colocar em perigo as pensões dos reformados".

Marine Le Pen criticou o balanço económico e social da governação Macron: “em matéria de sucesso na luta contra o desemprego, tenho as minhas dúvidas" ironizou a candidata. “85 mil milhões de euros de défice na balança comercial, é um número impossível” de contornar, sublinhou Le Pen que acrescentou que o adversário, “o ‘Mozart da finança’ tem um balanço económico péssimo e um balanço social que consegue ser ainda pior”. Para ela “é necessário fomentar o patriotismo económico”. 

Na questão da saúde, a candidata da extrema-direita quer investir “20 mil milhões de euros, nos próximos cinco anos, nos hospitais”. Le Pen acusou o presidente cessante de não antecipar os problemas e de apenas agir a reboque das crises. 

Marine Le Pen disse querer investir "10 mil milhões para a revalorização de pessoal de saúde e criação de emprego, nomeadamente nas instituições de cuidados a pessoas idosas”.

Emmanuel Macron estabeleceu como prioridade habitações para pessoas idosas em situação de dependência, sublinhando que “ficar em casa” é para ele uma prioridade. O presidente candidato diz ser necessário, em colaboração com as regiões, uma revalorização da ajuda domiciliária e a adopção de novos horários de funcionamento, mais numa lógica de serviço contínuo contrapondo com o apoio pontual que se verifica actualmente.

Segurança

“A par do poder de compra, a segurança é uma preocupação legítima dos franceses. A situação do país é verdadeiramente má”, começou por afirmar Marine Le Pen.  A candidata fala numa “barbárie" e numa “selvajaria”.

“É preciso resolver o problema da imigração anárquica e massiva que contribui para o agravamento da insegurança do nosso país. É, por isso, que proponho um referendo aos franceses para que eles decidam quem vem, quem fica e quem deverá partir. (...) Precisamos de firmeza (...) e no domínio da justiça, os franceses têm o sentimento que o laxismo é total, muitas vezes devido à falta de meios”, ressalvou a candidata. 

Le Pen defendeu ainda a “presunção de legítima defesa” para as forças de segurança e penas mais pesadas. 

Emmanuel Macron começou a sua resposta sobre segurança ao relembrar Xavier Jugelé, polícia morto nos Campos Elísios há cinco anos. O candidato prometeu um aumento da presença da polícia na via pública “até 2030”, uma medida que será possível graças à mobilização de cerca de 3.000 agentes (polícias e guardas), até agora afectos à segurança de edifícios públicos ou de detidos hospitalizados.

Macron quer igualmente generalizar o uso de câmaras da via pública pelas forças de segurança e instaurar um “crime específico de violência voluntária" cometido contra “todo o agente de autoridade pública".

O candidato defendeu o balanço do seu mandato, em termos de segurança, sublinhando a criação de “dez mil postos de polícias e guardas” e o aumento de meios judiciais em “30% nos últimos dois anos” com o alcance do objectivo de “nove mil magistrados”, da “diminuição da delinquência sobre os bens” e da eficácia da luta contra o terrorismo.

Laicidade

Questionados sobre a laicidade, Marine Le Pen diz querer lutar contra “a ideologia islâmica”. “Não luto contra a religião do islão, não há nenhum problema [com esta religião], eu luto contra a ideologia islâmica, que ataca a igualdade entre homens e mulheres, a laicidade, a democracia e que procura impor uma lei religiosa que se chama sharia”, sublinhou a candidata da União Nacional.

Para Marine Le Pen é preciso “encerrar as 570 mesquitas radicais”, lembrando que “não somos suficientemente firmes sobre estes assuntos" e que é favorável à proibição do véu islâmico no espaço público.  

Emmanuel Macron criticou o facto que “de uma questão de véu” a candidata de extrema-direita ter “passado ao terrorismo, para voltar ao islamismo e para passar para os estrangeiros”. Defensor da lei de 1905 sobre a laicidade, Macron prometeu que "não haverá proibição de qualquer símbolo religioso no espaço público”. 

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