África desconfia da "presença das tropas europeias"
O especialista moçambicano, Calton Cadeado, considera que neste momento há uma desconfiança dos africanos sobre a presença das tropas europeias, sobretudo dos franceses, no continente. A decisão de deixar o Mali é um dos assuntos que será debatido na 6.ª Cimeira UE/UA que começa esta quinta-feira, 17 de Fevereiro, em Bruxelas.
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Para Calton Cadeado existe, neste momento, uma desconfiança dos africanos sobre a presença das tropas europeias, sobretudo dos franceses, no continente.
“Há uma desconfiança dos africanos sobre a presença das tropas, sobretudo dos franceses, no continente. Isto já cria um embaraço para a discussão da permanência das tropas francesas no Sahel. Porém, em termos logísticos, a União Europeia, as forças individuais dos países, tem condições. Agora, é a vontade política de disponibilizar ou não esse dinheiro”, defende.
O analista moçambicano refere que uma nova força deveria “repensar” as questões tácticas e o aumento da “capacidade financeira”, admitindo o descontentamento dos países africanos com as forças estacionadas no terreno.
"Há reclamações dos países africanos que dizem que a força estacionada é uma força de serviços mínimos, que estão lá para fazer os seus serviços "neocoloniais", manutenção da hegemonia, para controlar a zona que é rica em recursos minerais, em vez de eliminar o inimigo”, frisou.
Calton cadeado defende que esta acusação não pode ser vista de forma acrítica, sublinhando que os europeus têm interesse em lutar contra o terrorismo.
“Do lado dos africanos, é uma acusação de quem sente o cansaço de tanta operação militar que não resolve o problema. Do lado dos europeus, obviamente que há um interesse muito forte de combater o terrorismo, até porque esse terrorismo, que atinge o continente africano, é um terrorismo transfronteiriço e a Europa está muito próxima desses locais onde o terrorismo está a actuar. Temos que ver os dois lados, o desconforto dos africanos, mas também dos europeus que estão preocupados”, explica.
A presença das forças russas Wagner no Mali, na República Centro Africana é vista pelo analista como o grande regresso da Rússia ao continente africano.
“Uma disputa geopolítica, geoestratégica do continente africano que é visto como a grande jóia da coroa, depois das recentes descobertas de recursos naturais de grande valor económico. É o grande regresso da Rússia a África de várias formas, inclusive no domínio da segurança. A crença na empresa Wagner reflecte o cansaço dos africanos nos europeus por considerarem que estão a dar pouco”, garante.
A decisão de retirar as forças francesas do Mali é um dos assuntos da cimeira entre a União Europeia/ União Africana, Paris deverá apresentar os contornos do seu futuro sistema militar no Sahel.
Os chefes de Estado e Governo da Europa e de África reúnem-se esta quinta e sexta-feira, 17 e 18 de Fevereiro, em Bruxelas para participar na 6.ª Cimeira União Europeia/ União Africana.
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