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França

Presidente descarta reescrita da história ou derrube de estátuas em França

O presidente francês reagiu às denúncias de violência da polícia em relação a negros alegando que qualquer discriminação será punida e defendendo o papel das forças da ordem. Emmanuel Macron descartou, ainda, qualquer revisão da história ou derrube de estátuas, como aconteceu com figuras do regime colonial e esclavagista noutros países e prometeu combater quaisquer discriminações.

Estátua junto à câmara baixa do parlamento francês de Jean-Baptiste Colbert, ministro do rei Luís XIV que implementou o quadro legal da escravatura nas colónias francesas.
Estátua junto à câmara baixa do parlamento francês de Jean-Baptiste Colbert, ministro do rei Luís XIV que implementou o quadro legal da escravatura nas colónias francesas. AFP - JOEL SAGET
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Emmanuel Macron tomou a palavra na noite de domingo para, sobretudo, abordar a aceleração do desconfinamento em França onde todo o território europeu passou a ser verde.

O chefe de Estado francês abordou também a semana de protestos em França protagonizada pelo Comité Verdade para Adama.

Adama Traouré era um jovem de origem maliana que acabou por falecer há praticamente 4 anos nos arredores norte de Paris após ter sido detido.

Os protestos intensificaram-se após a multiplicação de marchas nos Estados Unidos, e um pouco por todo o mundo, denunciando a violência policial contra a comunidade negra após a morte a 25 de Maio em Minneapolis de George Floyd.

Macron admite haver ainda discriminação em França, promete novo dispositivo para melhor a combater sem deixar de enaltecer o papel da polícia.

Esta continou a manifestar-se mesmo depois desta sua intervenção por estar a ser posta em xeque neste debate, tendo o ministro do Interior anunciado, sem consulta prévia da classe, o fim de um método de detenção tido como particularmente perigoso.

A imobilização do suspeito passava pela pressão a exercer no pescoço o que poderia implicar dificuldades respiratórias.

Os polícias descartam qualquer racismo e denunciam o abandono da tutela em relação ao seu papel na sociedade.

Emmanuel Macron, neste contexto, descarta qualquer revisão da história ou derrube de estátuas (aconteceu nos Estados Unidos, mas também no Reino Unido ou na Bélgica e em Portugal e na Itália houve registo de estátuas vandalizadas).

Colbert, autor do quadro legal da escravatura nas colónias francesas nos tempos do rei Luís XIV no século XVII, é uma das estátuas controversas que adornam os palácios parisienses.

No caso a sua estátua figura na escadaria da Assembleia Nacional, câmara baixa do parlamento francês.

O presidente francês prometeu, sim, um estreitamento da relação com África.

Eis um excerto da sua intervenção acerca deste assunto.

"Vamos lutar contra o facto de que o nome, o endereço, a cor da pele reduzem ainda frequentemente no nosso país as chances que cada um de nós deve poder ter.

Seremos inflexíveis em relação ao racismo, ao anti-semitismo e às discriminações e serão tomadas novas medidas fortes em relação à igualdade de oportunidades.

Mas este combate nobre é desnaturado quando desemboca em comunitarismo, ou na reescrita odiosa ou errada do passado.

Este combate é inaceitável quando é recuperado pelos separatistas.

A república não há-de apagar nenhum vestígio, nem nenhum nome da sua história.

Ela não há-de esquecer nenhuma das suas obras, ela não há-de derrubar estátuas.

Devemos antes, de forma lúcida, olhar juntos para toda a nossa história, toda a nossa memória.

Também a nossa relação com África, de forma específica, construir um presente e um futuro possíveis de uma margem à outra do Mediterrâneo."

01:04

Emmanuel Macron, presidente francês (tradução de João Matos)

Michel Cahen, historiador francês, comentando esta intervenção do presidente Emmanuel Macron, lembra que o marechal Pétain, que advogou a colaboração com a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, não beneficia, por isso, de nenhuma praça no país por ter estado no mau lado da história.

Competiria, lembra este académico ligado à Universidade de Bordéus, aos historiadores o trabalho científico que se prende com a análise da história.

Segundo este o calendário político actual, com eleições presidenciais agendadas para 2022, poderiam explicar esta posição mais "à direita" do presidente.

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