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Polêmica/UE

Socialistas franceses denunciam "intransigência egoísta" de Merkel

Os socialistas franceses engrossaram o tom contra Angela Merkel. Em um projeto de texto sobre a Europa escrito na sexta-feira, cuja versão final será apresentada na próxima terça, o Partido Socialista (PS) denuncia a "intransigência egoísta" da Primeira Ministra alemã e pede que o presidente François Hollande entre no braço de ferro contra a política de austeridade.

"Intransigência egoísta" de Angela Merkel só interessa à Alemanha e às aspirações eleitorais da chanceler, dizem socialistas
"Intransigência egoísta" de Angela Merkel só interessa à Alemanha e às aspirações eleitorais da chanceler, dizem socialistas REUTERS/Fabrizio Bensch
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De acordo com o esboço, o rigor que a "chanceler da austeridade" impõe ao resto da Europa "não leva em conta nada além das poupanças dos contribuintes além-Reno, a balança comercial registrada por Berlim e seu próprio futuro eleitoral", em alusão às eleições previstas para setembro no país vizinho. Em entrevista ao jornal Le Monde da última quinta-feira, o presidente da Assembleia Nacional Claude Bartolone já havia dito que, se fosse preciso, o presidente deveria partir para o confronto contra Merkel.

O tom agressivo e pouco habitual não é a jogada de alguns poucos socialistas revoltados com a política fiscal; ela tem o apoio tácito do Palácio do Eliseu. Mas é claro que, na cúpula presidencial, o registro é outro: "Não vamos virar a mesa de uma vez dizer que não há mais rigor, é mais stuil que isso. Há determinadas restrições que temos que seguir, mas adaptadas. É essa a reorientação que temos de fazer".

Dentro da oposição, a análise é que a aspereza do discurso socialista é sintoma do desespero, principalmente depois do anúncio, na última quinta-feira, do número recorde de desempregados (3,2 milhões) na França. "A Alemanha está virando o bode-expiatório do fracasso econômico e social de François Hollande", afirmou o ex-Primeiro Ministro do partido direitista UMP, François Fillon. "Raramente vimos uma relação tão ruim entre Paris e Berlim". Fillon, que se reuniu nesta sexta-feira com o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäulbe, em Berlim, disse que cresce na Alemanha "o medo de ver a França tentada por uma política anti-alemã".

Em entrevista à mais recente edição do Le Monde, o também ex-primeiro ministro da UMP Alain Juppé denunciou o "perigo mortal" de um confronto direto contra a Alemanha. "Uma parte crescente da esquerda quer entrar em uma batalha política contra a redução dos déficits, colocando-a na conta de uma visão liberal alemã", declarou. Juppé também acusou Hollande de ter levado adiante a "fantasia" de se apoiar no ex-líder do governo italiano Mario Monti para fazer Angela Merkel retroceder. De acordo com ele, o tiro não só errou o alvo como saiu pela culatra: "A confiança da Alemanha (na França) está abalada".

Via Twitter, o comissário europeu Michel Barnier (também membro da UMP) denunciou neste sábado "determinados ataques franceses insensatos" contra Angela Merkel. Em outro "tweet", ele afirmou que "não há saída possível para a crise na Europa sem uma cooperação construtiva entre a França e a Alemanha". Pouco depois, mais um post, citando o diálogo social, o empreendedorismo regional, a aprendizagem, o apoio à indústria e a o equilíbrio fiscal: "Olhemos o que acontece na Alemanha antes de criticar".

O secretário nacional do PS Jean-Christophe Cambadélis, que se encarregará de defender o texto no diretório nacional do Partido, garantiu que a versão final conclamará um combate à direita não só na Alemanha, mas por toda a Europa, sem estigmatizar Angela Merkel. "Trata-se de um combate político, não de estigmatizar uma ou outra pessoa". A ideia é simplesmente defender a reorientação da política a favor do crescimento e contra a austeridade. Por isso, todas as alusões a diretas Merkel serão retiradas do texto.

Neste sábado, o executivo francês também se encarregou de colocar panos quentes sobre a polêmica. Também no Twitter, o primeiro ministro Jean Marc-Ayrault escreveu, em francês e alemão, que "a amizade franco-alemã é indispensável para dar novo fôlego ao projeto europeu e encontrar os caminhos para a retomada do crescimento. Não resolveremos os problemas da Europa sem um diálogo intenso e sincero" entre os dois países.

Um conselheiro de Hollande, por sua vez, definiu a situação da seguinte maneira: "A França deve escolher entre dois papéis: ser o aliado construtivo da Alemanha para reorientar a Europa no sentido de algo mais equilibrado, que é o que tentamos fazer no cotidiano, ou ser o embaixador dos países do sul (Itália e Espanha). O segundo não nos leva muito longe". Para a mesma fonte, "quem diz que é preciso acabar com o esforço fiscal, relaxar tudo, não propõe nada além de uma vitória política de curto prazo".

Em entrevista ao jornal belga L'Echo, o presidente do Parlamento europeu, o social democrata alemão Martin Schulz, julgou que a austeridade foi, de fato, "longe demais" na Europa. Mas deu uma alfinetada nos críticos do pulso de ferro alemão: "Não podemos acusar Angela Merkel de decidir tudo sozinha. Há 26 outros dirigentes ao redor da mesa" no Conselho Europeu.

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