Le Parisien dedica duas páginas ao ex-são paulino Lucas

Na capa e em duas páginas do caderno de esportes do jornal francês Le Parisien, só dá Lucas. O título, ambíguo, é "Lucas Moura, a última loucura do PSG". O agora ex-são-paulino se junta ao Paris Saint-Germain no próximo domingo, para a pré-temporada da equipe em Doha e já deve encarar uma série de desafios. O primeiro, e mais evidente, é a adaptação. Ao duro futebol europeu, aos pesados gramados de inverno, às chuteiras de travas, à língua francesa.

Lucas comemora título da Sulamericana: "Momento mais bonito da minha carreira" REUTERS/Nacho Doce

Mas há também a expectativa dos parisienses com seu futebol. Como custou quase 45 milhões de euros - maior transação da história do futebol brasileiro mas que, para os são-paulinos, foi pouco -, Lucas precisa mostrar serviço rápido. Isso significa, de acordo com o Parisien, tomar o lugar do ponta-direita argentino Pastore que foi comprado pelo mesmo valor, mas já completou uma temporada no PSG e está entre os titulares de Carlo Ancelotti. Como o time não perde, não será fácil para Ancelotti promover trocas.

Conta a favor de Lucas o fato de ser discreto, não ter tatuagens nem cabelos mirabolantes. Isso porque o técnico é um "disciplinador", este eufemismo que se usa no futebol para os aspirantes a déspota. Há algumas semanas, por exemplo, o Parisien lembra que Ancelotti chamou o Messi de exemplo para o futebol. Não por ser o melhor do mundo, titular absoluto de sua seleção, o jogador que mais marcou gols em uma única temporada em toda a História da bola. Mas porque tem cabelo curto. Não deve ser fácil para o técnico aturar o cabeludo e tatuado Zlatan Ibrahimovic. Mas nada que ser o artilheiro do time não resolva.

Mas é na dobradinha bad-boy sueco/bom moço brasileiro que aposta o pai de Lucas. Na breve entrevista ao jornal, seu Jorge, que acompanhou os três últimos jogos do PSG, afirma que "a potência de Zlatan com a velocidade de Lucas vão fazer um estrago!" E garante que o garoto está pronto para o que lhe aguarda: "Foi uma decisão bem pensada. O desafio e a proposta eram muito interessantes. Ele vai descobrir uma outra vida, uma outra cultura, um outro futebol. E isso vai ser muito bom para sua progressão e crescimento pessoais".

Esta, aliás, sempre foi a principal preocupação do pai do craque. Muito maior do que a carreira, inclusive. Prova disso é que ele tirou o filho da escolinha do Corinthians, onde deu seus primeiros dribles, porque os treinos atrapalhavam os estudos e o programa de musculação era puxado demais. No São Paulo, o garoto tinha a oportunidade de estudar e havia um treinador disposto a dar espaço pro rapaz franzino.

Lucas conquistou a Copa São Paulo de futebol júnior em 2010 pelo Tricolor. Pela Seleção, ganhou a Sul-Americana sub-20 e foi vice-campeão ("pouco ou mal aproveitado" por Mano Menezes, segundo o jornal) nas Olimpíadas de 2012. Agora, debaixo de uma chuva de socos e pontapés, foi o maestro da conquista da Copa Sul-Americana pelo São Paulo. Seu último jogo, último título, último gol pelo clube que o revelou. "Este foi o momento mais bonito da minha carreira", disse o craque, citado pelo Parisien. "Agora, posso ir para o PSG com o espírito tranquilo para crescer e virar, se Deus quiser, um dos melhores jogadores do mundo".

O jornal francês não se lembrou ou não sabia. Mas na primeira entrevista do meia atacante como profissional do São Paulo, ainda em 2010, ele disse que queria ser "o melhor do mundo". Acusaram-no de arrogante... Mas o Parisien faz um diagnóstico mais preciso do jovem talento: "Lucas é direto e não prepara suas respostas com antecedência".

Talvez por isso, pouco antes de chegar na França, Lucas evocou, simplesmente, o maior craque da história do país: "Meu ídolo sempre foi Zidane. Meu estilo é um pouco diferente, mas eu adoro vê-lo jogar'. Agora, os franceses esperam para ver se ele não cita o santo nome em vão. A julgar pela carreira de Lucas (agora Lucas Moura) até aqui, eles podem ficar tranquilos.