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Cannes/Na Estrada

"Na Estrada" agrada em Cannes, mas não é favorito para Palma

O longa "Na Estrada", do diretor brasileiro Walter Salles, foi apresentado na manhã desta terça-feira à imprensa no Festival de Cannes e dividiu a opinião dos jornalistas. Inspirado no livro "On The Road", bíblia da geração beat escrita por Jack Kerouac, o filme demorou oito anos para ser concluído, resultado de uma ampla pesquisa do diretor e de todo elenco.

O diretor brasileiro Walter Salles e a atriz Kristen Stewart
O diretor brasileiro Walter Salles e a atriz Kristen Stewart Foto: Reuters
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Candidato à Palma de Ouro neste ano, o novo filme de Walter Salles deixou uma impressão de ‘déjà vu’ em muitos jornalistas. No fim da sessão desta terça-feira, reservada à imprensa, o comentário geral foi de que o longa era uma bela adaptação do intricado livro de Kerouac, escrito em três semanas nos anos 50, mas não trazia nada de novo. Alguns jornalistas brasileiros acreditam que o diretor ainda tem chances de levar o prêmio e pode até mesmo desbancar o favorito "Amor", de Michael Haneke, mas a imprensa estrangeira criticou a repetição de uma estética muito semelhante à de filmes como "Diários de Motocicleta" (2004), que também foi selecionado em Cannes, e do próprio "O Passageiro – Profissão Repórter", de Antonioni, que o diretor brasileiro sempre cita como uma influência definitiva em sua obra.

Opiniões à parte, o fato é que "Na Estrada" é um filme feito com esmero, resultado de uma epopeia de oito anos de pesquisa, produção e filmagens no Canadá, Argentina e México, como explicou Walter Salles na coletiva concedida à imprensa logo depois da sessão. "Oito anos se passaram antes de estarmos aqui com vocês, dando essa entrevista. Quando falei com o produtor pela primeira vez, o objetivo era inicialmente fazer uma pesquisa sobre a possibilidade de realizar o filme. E durante cinco anos, sem parar, retracei as estradas de 'On The...' entrevistando os personagens dessa geração emblemática", disse o diretor, que leu o livro "inúmeras vezes", segundo suas próprias palavras, aos 18 anos.

Walter Salles tem o mérito de ter terminado o que nenhum diretor, até então, tinha conseguido. O desejo inicial de Kerouac era que o longa tivesse sido produzido e interpretado por Marlon Brando. Com a morte do ator, os direitos autorais do livro foram adquiridos por Francis Ford Coppola nos anos 70. Diversos diretores ensaiaram uma adaptação, entre eles Godard e Gus Van Sant, mas nenhum deles levou adiante o projeto de destrinchar a hermética narrativa do escritor.

A produção
Para obter um roteiro à altura de sua exigência, Walter Salles criou um laboratório de imersão, uma espécie de ‘acampamento’ no Canadá, onde ocorreu parte das filmagens. Ele e os atores puderam encontrar e conversar com membros das famílias dos personagens : Sal Paradise (Sam Riley), alter ego do próprio Kerouac, Dean Morearty (Garrett Hedlund), pseudônimo de Neil Cassady, Marylou (Kristen Stewart), ou Joanne, e Carolyn Cassidy, esposa de Neil, interpretada pela atriz Kirsten Dunst. "Carolyn e John, filho de Neil, conversaram longamente com o grupo. John nos disse que essa história não era sobre a geração Beat, mas sobre o que a precede, e como ela se delineou. Essa visão do livro, e ouvir isso dele, que estava dentro de tudo, foi muito importante para nós", disse o diretor.

Durante a produção, Walter Salles também entrevistou, por exemplo, o cineasta Win Wenders, que sofreu uma grande influência da Beat Generation. Ele e os atores também ouviram gravações dos personagens originais, leram livros dos poetas representativos do movimento, como Allen Ginberg, interpretado no filme por Tom Sturridge, ou William Bourroughs (Viggo Mortensen). Para ilustrar o clima nas filmagens, durante a coletiva, o diretor contou que, depois da última cena gravada com Mortensen, ambos entraram no carro e ouviram durante 45 minutos uma gravação original do poeta americano. "Para um diretor, e para todos nós, o que pode ocorrer de melhor é o fato de jovens leitores de 17 ou 18 anos se interessarem pelo livro, como nós nos interessamos", declarou Salles.

Filme traz estrela de "Twilight"

Alvo de uma grande campanha de marketing, o filme também estreia hoje em circuito nacional na França. Em Paris, ele ganhou uma exposição no museu de Cartas e Manuscritos, patrocinada pela produtora MK2, e foi destaque em diversos jornais e revistas. A revista de fim de semana do jornal Le Monde, por exemplo, dedicou a capa ao longa, com matéria assinada pelo crítico de cinema Thomas Sotinel. O filme também tem a seu favor a fama repentina de Kristen Stewart, desconhecida na época das filmagens e que se tornou uma celebridade depois da série "Twilight". Sobre a Palma de Ouro, Walter Salles não se pronunciou, mas jornalistas que o conhecem há bastante tempo dizem que ninguém vem a Cannes sem esperar pelo prêmio.
 

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