Indefinição na eleição no Brasil empolga a imprensa francesa
O jornal francês Le Figaro destaca neste sábado (4) que a eleição presidencial no Brasil continua indefinida na véspera do primeiro turno. Para o Libération, o Brasil hesita em dar um segundo mandato à presidente Dilma Rousseff, o que adiciona um clima de suspense à votação de amanhã.
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Segundo Le Figaro, quando tudo parecia perdido para Aécio Neves, o candidato do PSDB ganhou novo fôlego e agora tem motivos para ter esperança de chegar ao segundo turno. Principal adversária da presidente Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) recua, mas a ecologista canaliza uma parte do voto anti-PT e se mantém na corrida. Na véspera da votação, é impossível saber quem será o rival de Dilma no segundo turno, avalia Le Figaro.
A reta final da campanha presidencial no Brasil entusiasma a imprensa francesa. O toque de imprevisibilidade dado pelas últimas pesquisas, que apontam empate técnico entre Marina e Aécio, tornam a votação interessante. As histórias de vida de Dilma, "ex-guerrilheira e mulher de combates", e Marina, "uma injúria das estatísticas, como Lula", segundo Le Figaro, dão um sabor inédito à disputa.
O duelo entre duas mulheres à presidência do país que é a sétima economia do mundo encanta os franceses, que têm um sistema político engessado e que dá pouco espaço às mulheres. Até hoje, a socialista Ségolène Royal foi a única mulher a chegar ao segundo turno da eleição presidencial francesa, mas ela foi derrotada por Nicolas Sarkozy em 2007.
Disputa vira plebiscito
Em sua edição deste sábado, o jornal de esquerda Libération diz que a eleição presidencial se transformou num plebiscito sobre a manutenção ou não do PT no poder. Durante as duas gestões do ex-presidente Lula (2002-2010), milhares de brasileiros acessaram a classe média, mas, amanhã, muitos desses ex-pobres não votarão em Dilma, nota o Libération.
O sociólogo Wagner Iglecias, ouvido pelo jornal, afirma que os brasileiros que ascenderam socialmente durante os anos Lula são "individualistas, não têm cultura política e nem sempre são conscientes do que ganham com as políticas públicas". Lula era claramente identificado como o pai das políticas sociais. Dilma não tem a mesma empatia com o povo, diz o sociólogo. Ele também avalia que "a nova classe média brasileira imita os mais ricos, que pensam que tudo é uma questão de mérito e o Estado não serve para nada". Um pensamento que é reforçado pelas igrejas evangélicas, que propagam o esforço pessoal como condição para o sucesso.
Como para o resto da imprensa, a candidatura de Marina é a mais fascinante. "Negra, nascida na miséria, íntegra de caráter, essa ex-partidária do PT encarna hoje as mudanças esperadas por mais de dois terços dos eleitores." Marina é a terceira via, afirma o Libération, enquanto Aécio é penalizado pela imagem de "candidato dos mercados e do establishment".
Gratidão a Lula ou mudança já?
São onze candidatos na disputa à presidência e Dilma Rousseff larga na pole position, comenta o jornal especializado em economia Les Echos.
Com a economia brasileira em recessão, juros e inflação em alta, não foi difícil para os adversários baterem na candidata do PT durante a campanha, relata o diário. "Mas no Brasil, as camadas carentes da população constituem um segmento à parte. "Durante os anos Lula, elas tiveram acesso aos bens de consumo e à educação", escreve Les Echos. A melhora na qualidade de vida durou até o começo do governo Dilma. "Agora, o clima é de estagnação e os eleitores desse segmento estão divididos entre um dever de gratidão em relação ao ex-presidente Lula e a tentação de arriscar uma mudança". Essa dúvida será esclarecida amanhã nas urnas, conclui Les Echos.
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