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Brasil/Ditadura

Para mídia europeia, morte de coronel Malhães é queima de arquivo

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Pedro Dallari, pediu ao Ministério da Justiça que a Polícia Federal (PF) acompanhe as investigações sobre o assassinato do coronel da reserva Paulo Malhães. O corpo do militar foi encontrado nesta sexta-feira (25 ) com sinais de asfixia, em seu sítio na zona rural de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Há um mês, em depoimento à CNV, Malhães admitiu que torturou, matou e ocultou cadáveres de presos políticos durante o regime militar (1964-85).

Foto do Arquivo Público de São Paulo de protestos pelos desaparecidos da ditadura militar brasileira durante seção da Lei de Anistia na Câmara dos Deputados.
Foto do Arquivo Público de São Paulo de protestos pelos desaparecidos da ditadura militar brasileira durante seção da Lei de Anistia na Câmara dos Deputados. Arquivo Público de São Paulo
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A morte de Malhães tem repercussão na mídia internacional. O jornal espanhol El Pais afirma que "as feridas da ditadura militar brasileira seguem abertas e ainda há muitas coisas para saber sobre esse período, trinta anos após a redemocratização do país". O jornal comenta que "as pessoas que mataram Malhães podem ter pretendido mandar um recado a todos os convocados a testemunhar na Comissão da Verdade". El Pais evoca a frieza com que Malhães relatou à CNV as mutilações que executava nos presos políticos para evitar sua indentificação.

O jornal O Público, de Portugal, diz que "a morte de Paulo Malhães trouxe a lembrança do caso de Júlio Molinas Dias, outro ex-coronel que foi morto em novembro de 2012 na porta de casa". O diário português reproduz comentários de membros da CNV que atribuem a morte de Malhães a uma queima de arquivo.

Queima de arquivo

A mulher de Malhães e a empregada da família foram ouvidas pela polícia do Rio e relataram que a casa foi invadida por três homens, um deles com o rosto coberto, na noite da quinta-feira. Os agressores trancaram o coronel, a mulher e a doméstica em quartos separados, e fugiram levando armas que Malhães mantinha no sítio.

Segundo Pedro Dallari, no longo depoimento que o coronel concedeu à CNV no dia 25 de março, "ficou evidente que ele dispunha de mais informações". Na opinião de Dallari, "o assassinato de Malhães deve ter sido praticado com a finalidade que ele não voltasse a depor e e também para inibir o depoimento de outras testemunhas que poderiam colaborar ou que ainda podem colaborar com os trabalhos da Comissão da Verdade". Uma clássica queima de arquivo.

Malhães, de 76 anos, revelou à CNV como funcionava a Casa da Morte, um centro de torturas clandestino mantido nos anos 1970 pelo Centro de Informações do Exército (CIE), em Petrópolis. Ele contou que os agentes do regime militar arrancavam a arcada dentária e as pontas dos dedos dos opositores de esquerda para impedir sua identificação. Disse ainda ter sido o responsável pelo sumiço do corpo do deputado Rubens Paiva, desaparecido em 1971.

A Divisão de Homicídios da Baixada investiga o caso.

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