Sindicalista colombiano acusa petrolífera britânica BP de sequestro e tortura
O sindicalista colombiano Gilberto Torres acusou a gigante petrolífera britânica BP de ser cúmplice de seu sequestro e tortura, informaram nesta sexta-feira (22) seus advogados e o jornal The Guardian. Torres, que está em Londres, passou 42 dias de 2002 em poder de paramilitares e foi libertado graças a uma mobilização espetacular de seus companheiros, que ameaçaram o setor de petróleo com uma greve nacional.
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De acordo com os advogados do sindicalista, há indícios que incriminam a Ocensa (Oleoducto Central SA), empresa proprietária e gestora de um oleoduto colombiano do qual a BP era acionista. O primeiro deles seria o fato de que, no dia do crime, os sequestradores, membros do grupo paramilitar de direita ACC (Autodefesas Camponesas de Casanare), dirigiam um Mitsubishi Montero com o logotipo da empresa.
Além disso, pesquisadores ouvidos pelo Guardian afirmam que, durante os anos 90 - quando eram corriqueiros o sequestro e assassinato de sindicalistas, ativistas e ambientalistas que se opunham à corrida do ouro negro colombiano - muitos sindicalistas receberam a mensagem: "Não f... com a BP".
De acordo com as Nações Unidas, nos últimos 30 anos - o que coincide com a chegada das gigantes do petróleo - mais de 3 mil sindicalistas foram assassinados na Colômbia e 6 mil desapareceram. Gilberto Torres foi um dos poucos que sobreviveram e agora quer contar sua história em um tribunal.
O Deighton Pierce Glynn, um pequeno escritório de advocacia especializado em Direitos Humanos, assumiu o caso. "Pedimos indenização pelo cativeiro e tortura de Gilberto Torres", explicou a sócia da firma Sue Willman à Agência France Presse. "Afirmamos que (a BP) foi negligente e cúmplice" dos horrores que ele viveu.
Ameaças e assassinatos
Horror é um termo leve. Na entrevista ao Guardian, Torres conta, por exemplo, que viu um homem ser torturado até confessar que fazia parte das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, de extrema-esqueda). Ele foi então executado, decapitado, esquartejado e teve os órgãos expostos e retalhados.
Torres afirmou que os sequestradores repetiam frequentemente que todos os membros da USO (União Sindical Trabalhadora, na sigla em espanhol) "são guerrilheiros filhos da p..., que acabam com a economia do país ao impedir as empresas multinacionais de virem dar trabalho à população".
A BP negou qualquer envolvimento no caso. Em comunicado, a companhia "lamenta o que aconteceu ao senhor Torres", mas "rechaça categoricamente qualquer acusação de que teve alguma relação ou conhecimento do incidente. A BP nunca contratou, colaborou com ou acobertou atividades paramilitares na Colômbia".
Histórico de infrações
Apesar de ter encerrado há quatro anos suas operações na região de Casanare, a gigante britânica nunca conseguiu se livrar do espectro colombiano. Corre nos tribunais britânicos um processo de cem pequenos agricultores que acusam a companhia de se aproveitar dos abusos governamentais e paramilitares para instalar oleodutos de maneira irresponsável. Eles pedem 18 milhões de libras (mais de R$ 86 milhões) em indenização pelas perdas causadas pelo deslocamento forçado da população e destruição de colheitas.
São frequentes as suspeitas de que a companhia empregou ex-militares acusados de infrações de direitos humanos, cooperou com milícias armadas de direita e chegou inclusive a operar sua própria rede de inteligência, fornecendo ao exército colombiano fotografias e informações sobre lideranças camponesas.
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