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Colômbia/Petróleo

Sindicalista colombiano acusa petrolífera britânica BP de sequestro e tortura

O sindicalista colombiano Gilberto Torres acusou a gigante petrolífera britânica BP de ser cúmplice de seu sequestro e tortura, informaram nesta sexta-feira (22) seus advogados e o jornal The Guardian. Torres, que está em Londres, passou 42 dias de 2002 em poder de paramilitares e foi libertado graças a uma mobilização espetacular de seus companheiros, que ameaçaram o setor de petróleo com uma greve nacional.

Cartaz das centrais sindicais colombianas convocando para protesto em 2010 contra BP
Cartaz das centrais sindicais colombianas convocando para protesto em 2010 contra BP Reprodução
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De acordo com os advogados do sindicalista, há indícios que incriminam a Ocensa (Oleoducto Central SA), empresa proprietária e gestora de um oleoduto colombiano do qual a BP era acionista. O primeiro deles seria o fato de que, no dia do crime, os sequestradores, membros do grupo paramilitar de direita ACC (Autodefesas Camponesas de Casanare), dirigiam um Mitsubishi Montero com o logotipo da empresa.

Além disso, pesquisadores ouvidos pelo Guardian afirmam que, durante os anos 90 - quando eram corriqueiros o sequestro e assassinato de sindicalistas, ativistas e ambientalistas que se opunham à corrida do ouro negro colombiano - muitos sindicalistas receberam a mensagem: "Não f... com a BP".

De acordo com as Nações Unidas, nos últimos 30 anos - o que coincide com a chegada das gigantes do petróleo - mais de 3 mil sindicalistas foram assassinados na Colômbia e 6 mil desapareceram. Gilberto Torres foi um dos poucos que sobreviveram e agora quer contar sua história em um tribunal.

O Deighton Pierce Glynn, um pequeno escritório de advocacia especializado em Direitos Humanos, assumiu o caso. "Pedimos indenização pelo cativeiro e tortura de Gilberto Torres", explicou a sócia da firma Sue Willman à Agência France Presse. "Afirmamos que (a BP) foi negligente e cúmplice" dos horrores que ele viveu.

Ameaças e assassinatos

Horror é um termo leve. Na entrevista ao Guardian, Torres conta, por exemplo, que viu um homem ser torturado até confessar que fazia parte das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, de extrema-esqueda). Ele foi então executado, decapitado, esquartejado e teve os órgãos expostos e retalhados.

Torres afirmou que os sequestradores repetiam frequentemente que todos os membros da USO (União Sindical Trabalhadora, na sigla em espanhol) "são guerrilheiros filhos da p..., que acabam com a economia do país ao impedir as empresas multinacionais de virem dar trabalho à população".

A BP negou qualquer envolvimento no caso. Em comunicado, a companhia "lamenta o que aconteceu ao senhor Torres", mas "rechaça categoricamente qualquer acusação de que teve alguma relação ou conhecimento do incidente. A BP nunca contratou, colaborou com ou acobertou atividades paramilitares na Colômbia".

Histórico de infrações

Apesar de ter encerrado há quatro anos suas operações na região de Casanare, a gigante britânica nunca conseguiu se livrar do espectro colombiano. Corre nos tribunais britânicos um processo de cem pequenos agricultores que acusam a companhia de se aproveitar dos abusos governamentais e paramilitares para instalar oleodutos de maneira irresponsável. Eles pedem 18 milhões de libras (mais de R$ 86 milhões) em indenização pelas perdas causadas pelo deslocamento forçado da população e destruição de colheitas.

São frequentes as suspeitas de que a companhia empregou ex-militares acusados de infrações de direitos humanos, cooperou com milícias armadas de direita e chegou inclusive a operar sua própria rede de inteligência, fornecendo ao exército colombiano fotografias e informações sobre lideranças camponesas.

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