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Copa 2014/Política

Copa do Mundo também é desafio político para Argentina, Chile e Uruguai

Terminou nesta segunda-feira (2) o prazo para as seleções que vão participar do Mundial de Futebol apresentarem à FIFA a lista dos 23 jogadores selecionados. Mas por trás dos jogadores e das partidas, o que está em jogo na arena política? O chamado "efeito Copa do Mundo" será explorado pelos governos do Brasil, Argentina, Uruguai e até do Chile, neste Mundial.

Para os líderes sul-americanos, o Mundial de 2014 é também uma oportunidade de articular jogos políticos.
Para os líderes sul-americanos, o Mundial de 2014 é também uma oportunidade de articular jogos políticos. Reuters
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Márcio Resende, correspondente da RFI Brasil em Buenos Aires

A euforia popular durante a Copa do Mundo costuma ser uma aliada para os objetivos dos governos a curto prazo. O título de campeão ou mesmo um bom desempenho pode abrir um período de lua-de-mel com a população. Mas uma decepção também pode ter o efeito contrário: um divórcio com os torcedores, ou melhor, eleitores.

Chile

A pretensão chilena é modesta. Chegar às quartas-de-final e ficar entre as oito melhores seleções do mundo. O Chile nunca passou das oitavas-de-final. Justamente perdeu para o Brasil em 1998, na França, e em 2010, na África do Sul.

A presidente chilena Michelle Bachelet aceitou o convite da presidente Dilma Rousseff. Estará na inauguração da Copa do Mundo em São Paulo e no primeiro jogo da seleção chilena contra a Austrália, no dia seguinte, em Cuiabá.

Um bom desempenho do Chile no Mundial pode ajudar na auto-estima dos chilenos depois das recentes tragédias provocadas pelos terremotos no Norte do país e pelo incêndio em Valparaíso. Bachelet contaria ainda com o bom humor social para avançar com as suas reformas enquanto esvazia a pressão nas ruas das manifestações estudantis.

Argentina

A Argentina sonha mesmo com o tricampeonato em pleno Maracanã. O governo de Cristina Kirchner tomou a seleção de futebol como um capital político. O recente anúncio dos jogadores selecionados foi como um verdadeiro ato de campanha com participação de membros do governo e de militantes. Durante a cerimônia, o Chefe de Gabinete (equivalente ao cargo de Chefe da Casa Civil), Jorge Capitanich, previu que "no país não se falará de outra coisa".

Ao mesmo tempo o técnico da seleção argentina, Alejandro Sabella, declarava numa entrevista que o governo Kirchner "é o que mais pensou num país distributivo, para acolher os que menos têm".

Analistas prevêem que o governo use os gols de Messi como distração para o anúncio de medidas impopulares como aumento de impostos. Durante o período do Mundial, coincidentemente, foram marcadas audiências e interrogatórios a envolvidos com escândalos de corrupção.

Uruguai

O caso uruguaio é o mais parecido com o brasileiro. Assim como o Brasil, o Uruguai também terá eleições em outubro. Mas o presidente José Mujica não pode ser reeleito como Dilma Rousseff. O candidato de Mujica à sucessão, o ex-presidente Tabaré Vázquez, também não tem a vitória assegurada no primeiro turno. Os uruguaios confiam que o fantasma de 1950 ainda ronde o Maracanã.

No anterior Mundial, na África do Sul, o Uruguai chegou às semi-finais e Diego Forlán foi eleito o melhor jogador. "Só com isso, as buscas na Internet com as palavras "Uruguai" e "Forlán" aumentaram 3.000%", ressaltou à RFI a ministra do Turismo do Uruguai, Liliam Kerchechian.

Também logo após o bom desempenho na África do Sul, o então presidente Tabaré Vázquez conseguiu eleger o seu sucessor, o atual presidente, José Mujica. Quatro anos depois, agora é Mujica quem tenta devolver o título.

Há duas semanas, o próprio Mujica declarou que "se o Uruguai não ganhar, que ganhe o Brasil". O desejo uruguaio tem uma explicação solidária com Dilma Rousseff: Mujica sabe que uma decepção popular com a seleção brasileira poderia ter consequências eleitorais no Brasil e ser o combustível para as manifestações contra o governo.

"Para o Brasil, hoje ser sede tornou-se mais um risco certo do que uma oportunidade política. Um resultado insatisfatório poderia seguramente ter o efeito contrário. Para o país que mais taças ganhou, não ganhar quando se joga em casa, seria como deixar um sabor amargo", avalia o prestigioso cientista político Rosendo Fraga, diretor do centro de estudos Nova Maioria.

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