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Cabo Delgado

"Ameaça continua alta" em Cabo Delgado

Os ataques armados em Cabo Delgado intensificaram-se nas últimas semanas, levando à deslocação forçada de centenas de pessoas. Segundo um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), publicado esta terça-feira, entre 26 e 28 de Dezembro, 430 pessoas tiveram que fugir de suas casas.

"A ameaça continua alta" em Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
"A ameaça continua alta" em Cabo Delgado, no norte de Moçambique. AFP - CAMILLE LAFFONT
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Os ataques intensificaram-se no norte de Moçambique, levando à deslocação forçada de centenas de pessoas. Segundo um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), entre 26 e 28 de Dezembro, 430 pessoas tiveram que fugir de suas casas.

As populações de Mucojo e Pagane, no distrito de Macomia, temem novos ataques e procuram abrigo nas comunidades vizinhas. “Devido às preocupações de segurança relatadas pelas famílias deslocadas, as intenções durante a estadia nas comunidades de acolhimento permanecem incertas”, refere o relatório, com informações recolhidas no terreno.

No dia 29 de Dezembro, o auto-proclamado Estado Islâmico reivindicou a morte de nove militares moçambicanos na aldeia de Manhiça, no distrito de Muidumbe. Dois dias depois, 31 de Dezembro, os insurgentes voltaram a reivindicar a autoria de um novo ataque em Cabo Delgado, em que afirma terem morrido mais quatro militares, o terceiro ataque conhecido em menos de um mês. Até ao momento, os ataques não foram confirmados pelas autoridades moçambicanas.

Numa altura em que os ataques jihadistas se intensificam no norte de Moçambique, a TotalEnergies planeia retomar o projecto de exploração de gás natural em Cabo Delgado, no primeiro trimestre deste ano. No último ano,  a petrolífera francesa exigia o regresso das populações, garantias de segurança e o acesso rodoviário e portuário para retomar o projecto - suspenso desde Junho de 2022 por motivos de segurança.

"A questão da segurança continua por resolver", afirma o investigador no Instituto de Estudos de Segurança, Borges Nhamire, lembrando o executivo moçambicano"continua a dar prioridade a uma estratégia militar: perseguir, atacar e desmantelar as bases. A  insegurança vai prevalecer ainda dois, três ou quatro anos, porque Cabo Delgado é um terreno difícil, com muitas matas impenetráveis. Os insurgentes conhecem bem o território, conseguem movimentar-se com muita facilidade e esconder-se no meio das comunidades. É preciso mudar de abordagem para avançar para outras frentes, seja através de negociações ou de resolver questões sociais para se retirar o apoio aos insurgentes". 

No terreno, "a ameaça continua muito alta, de tal forma que apenas os locais conseguem circular", descreve o investigador. Borges Nhamire recorda que no dia 21 de Dezembro "os insurgentes controlaram a estrada principal: mandavam parar carros, conversavam com as pessoas numa demonstração de controlo da situação no terreno. No dia 26 de Dezembro houve outro ataque no qual nove militares moçambicanos foram mortos, blindados queimados e o reforço que foi enviado foi emboscado. Isso mostra que eles ainda têm capacidade de realiza ataques", concluiu.

A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com ataques reclamados pelo grupo extremista auto-proclamado Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde Julho de 2021, com apoio de 2500 militar do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projectos de gás.

Em Agosto passado, numa cimeira da SADC aprovou, em a prorrogação da missão em Cabo Delgado, por 12 meses, até Julho do próximo ano. Uma missão de avaliação propôs em Julho passado a retirada completa dos militares da SAMIM em Cabo Delgado até Julho de 2024, assinalando que a situação na província “está agora calma”, apesar de os riscos prevalecerem.

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados e cerca de 4.000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos, ACLED.

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