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Em linha com o correspondente

Cinema português em cartaz no Festival de Locarno

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Começa hoje, na Suíça, o Festival Internacional de Cinema de Locarno, considerado o quarto em importância, na classificação dos festivais internacionais. Os filmes portugueses e lusófonos africanos estão sempre presentes neste Festival. O nosso correspondente Rui Martins está lá e levanta-nos o véu sobre a edição 2019 do certame.

"La Rotonda" do Festival Internacional de Cinema de Locarno
"La Rotonda" do Festival Internacional de Cinema de Locarno Massimo Pedrazzini
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Qual é a principal novidade no Festival de Locarno?

Rui Martins: A principal novidade é sem dúvida a estreia da nova direcção. Esta nova edição do Festival, a septuagésima segunda, que se inicia hoje, é sob a responsabilidade de Lili Hinstin, jovem cineasta de 42 anos, que dirigia até ao ano passado, o Festival Internacional de Belfort com título bem sugestivo Entre-Vistas. Lili substitui Carlo Chatrian, o ex-director italiano de Locarno, agora director artístico do Festival Internacional de Berlim, que, por sua vez, estreará em fevereiro em Berlim.

E qual é a tua primeira impressão pelas escolhas de filmes na programação das diversas secções?

Rui Martins:  Esta minha primeira impressão é pelos filmes escolhidos nas competições, ainda inéditos, e por uma rápida entrevista com ela. Eu diria ter ficado bem impressionado. Locarno é um festival muito especial que, desde a sua criação, escolhe filmes de preocupação social e de tendências de comportamento. É muito normal, pois foi criado em 1946, logo depois do fim da Segunda Guerra. Festival de filmes de autor, tem revelado grandes nomes do cinema internacional como Stanley Kubrick, Claude Chabrol, Milos Forman, Atom Egoyan, Jim Jarmusch, Raul Ruiz, Abbas Kiarostami e Pedro Costa para citar só alguns. 
Lili demonstrou preocupação com o futuro do cinema brasileiro, hoje sob risco de pré-censura, e programou uma série de filmes de diversas nacionalidades sobre o problema do racismo. E vai dar um grande destaque ao cinema português !

É verdade: na competição internacional foram colocados três filmes portugueses !

Rui Martins: Um recorde Miguel. Nunca vi tal coisa num festival ! O máximo foi a escolha de dois filmes do mesmo país. Entretanto, Lili Hinstin corrigiu-me quando lhe manifestei a minha surpresa, dizendo não serem três e sim dois. Para chegar a isso, ela falou sobre os critérios determinantes da nacionalidade de um filme. E o principal, no caso, é o relacionado com o financiamento do filme, ou seja, a nacionalidade da empresa produtora do filme. 

E quais são esses três ou dois filmes portugueses na importante competição internacional ?

Rui Martins:  Vamos começar com o o filme "O Fim do Mundo". A produtora é suíça, Thera Produções, a coprodutora é também suíça, é a Rádio e Televisão Suíças. O que é português neste filme?
O realizador Basil da Cunha é filho de emigrantes portugueses, nascido em Lausanne, mas já adquiriu também a nacionalidade suíça, Vive em Genebra, cidade suíça, onde agora é professor na Escola de Cinema.
São portugueses os actores. E o filme é falado em português, com legendas em inglês. En passant, o francês vem sendo abandonado pelos festivais em favor do inglês. Há dois anos, o Festival de Berlim acabou com as legendas em francês no filmes. Locarno provavelmente não fará a mesma coisa, pois o francês é uma das três línguas nacionais.
Mas voltemos a Basil da Cunha e ao seu "Fim do Mundo". O filme é suíço, segundo a directora do Festival, eu continuo a achar ser português, mas não quero discutir.
Uma coisa posso dizer - Basil da Cunha, que conheci aqui em Locarno, quando fez as suas primeiras curtas, é alguém em progressão, tenho quase a certeza de que "O Fim do Mundo" é um bom filme. Contarei.

E o outros dois filmes portugueses ?

Rui Martins: A directora Lili Hinstin justificou-se (como se precisasse !), por ter escolhido dois filmes portugueses na mesma competição internacional. Não há outra solução, quando João Nicolau e Pedro Costa fazem os seus filmes no mesmo ano. Os dois filmes, diz ela, são bem portugueses, embora um nada tenha a ver com o outro. Não podemos fazer um filme dialogar com o outro, mas podemos mostrar os dois, e assim fizemos.
O filme de João Nicolau é "Techboss" e o filme de Pedro Costa, é "Vitalina Varela", verei os dois e contarei depois. Faço fé no que disse Lili Hinstin sobre esses dois filmes.

E há alguma curta metragem portuguesa ?

Rui Martins:  Sim ! E voltamo-nos a defrontar com a questão da nacionalidade do filme. A realizadora é romena mas a produção é portuguesa. O título "Vulcão, o que sonha um lago", de Diana Vidrascu. Ela também vive em Paris e os seus filmes têm participado nos festivais de Locarno, Berlim, Amsterdão.

Alguma outra participação portuguesa importante ?

Rui Martins: Sim, a do cineasta João Felipe Costa, embora fora de competição. Porém, o festival não poderia programar quatro filmes portugueses.Trata-se de "Prazer Camaradas" e está ligado directamente à Revolução dos Cravos, do 25 de Abril (de 1974).
Iremos, ver todos estes filmes e traremos aqui os seus realizadores.

E para concluir, não há filmes lusófonos africanos?

Rui Martins: Infelizmente não. Porém, existem filmes africanos na competição das curtas e existem longas na competição Cineastas do Presente. Entre as curtas, filme do Ghana, África do Sul, e duas da Tunísia. Entre as longas em Cineastas do Presente, um filme da Argélia e outro do Senegal. 

Rui Martins, do festival de cinema de Locarno para a RFI.

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