Urnas fechadas na Turquia
Cerca de dez milhões de eleitores votaram, este domingo, em Istambul, na repetição das eleições locais na maior metrópole turca.
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O candidato da oposição, Ekrem Imamoglu, que ganhou as eleições em março passado por uma margem mínima – cerca de 13,000 votos - mas que depois viu o voto anulado, numa controversa decisão da comissão nacional de eleições, liderava as sondagens, à frente do candidato governamental, o ex-primeiro-ministro Binali Yildirim.
O presidente turco Recep Tayyiip Erdogan sofreu a sua primeira derrota eleitoral num quarto de século, em março passado, quando quase todas as grandes cidades caíram para a oposição, mas recusou-se a entregar a jóia da coroa, a câmara de Istambul, com um orçamento de €7 mil milhões, que muitos observadores consideram ser uma peça importante na vasta rede de influências à volta do presidente.
As urnas encerraram às 17h (16h em paris), mas os primeiros resultados só devem estar disponíveis a partir das 20h.
O resultado final dependerá da abstenção – e do voto dos curdos.
A participação no escrutínio de março foi grande (84%), mas os 15% que restam significam 1,5 milhões de votos, e a vitória de Imamoglu foi mínima.
Quem conseguir atrair mais abstencionistas hoje ganhará.
Outra incógnita é o voto curdo.
Uma das razões principais que explicou o sucesso da oposição, em março, foi a união - pela primeira vez, o partido curdo, que tem estado sob um ataque cerrado do Governo, com metade dos seus dirigentes, muitos deputados, e milhares de militantes na prisão, não apresentou candidatos fora da zona de maioria curda, apelando ao voto útil contra Erdogan, e a maioria, milhão e meio de eleitores curdos em Istambul, assim o fez.
Mas nas últimas semanas o Governo anunciou algumas aberturas – permitiu que Abdullah Ocalan, o líder histórico dos separatistas curdos do PKK (Partido dos trabalhadores do Curdistão) recebesse visitas na sua prisão solitária pela primeira vez em 8 anos, e há dois dias o próprio Erdogan revelou que Ocalan terá escrito uma carta apelando à abstenção, falando de uma cisão entre o partido curdo e o líder do PKK.
Uma enorme ironia - há centenas de pessoas na prisão por referirem o líder do PKK, mas quando é para interesse próprio o presidente da república não se inibe de promover aquele que frequentemente chama o pior dos terroristas.
Ainda assim o partido curdo confirmou que continua a apoiar Imamoglu, e deixou claro que há muitas dúvidas sobre a autenticidade da alegada carta.
O que acontecerá se Imamoglu ganhar, como parece ser mais provável, confirmando aquela que será talvez a maior derrota de Erdogan na sua longa carreira?
O presidente já sugeriu que é possível que haja alguns impedimentos legais à tomada de posse do candidato da oposição – recentemente acusado de “ofender o Estado turco”, mas a verdade é que uma segunda derrota de Erdogan poderá desencadear uma esperada cisão no partido governamental, que denota algum cansaço e desconforto, depois de 17 anos no poder, e uma brecha no controlo quase absoluto que Erdogan exerce sobre a Turquia.
Oiça aqui a reportagem de José Pedro Tavares em Ancara:
José Pedro Tavares, correspondente na Turquia
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