Caso Khashoggi : Explicações sauditas não satisfazem
A Arábia Saudita reconhece finalmente que o jornalista e dissidente saudita Jamal Khashoggi está morto, mas as explicações oficiais não satisfazem.
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As autoridades sauditas finalmente reconheceram o que todos já sabíamos – que Jamal Khashoggi, o jornalista e dissidente saudita que desapareceu há 20 dias no Consulado daquele país em Istambul, está morto.
Segundo Riade, o dissidente terá morrido “acidentalmente”, numa “luta” dentro do Consulado, e que os envolvidos conspiraram depois para abafar a história clandestinamente, sem dar qualquer outra explicação ou esclarecimento sobre o paradeiro do seu corpo.
Riade disse que deteve 18 suspeitos e demitiu 5 altos responsáveis, entre os quais o Vice-presidente dos serviços secretos, e esperava que o desconfortável assunto - que tem focado os holofotes no príncipe herdeiro Mohammed bin Salman - acabasse ali. Mas o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e a comunidade internacional, continuam a pedir um inquérito rigoroso.
A verdade é que tudo aponta para que a operação tenha sido sancionada pelos mais altos responsáveis do Reino, e tanto Erdogan como o Ocidente parecem querer ir até às últimas consequências.
O Presidente turco disse ontem que iria “revelar a verdade nua e crua” amanhã, terça-feira. As autoridades turcas dizem ter em seu poder gravações áudio que provam que Khashoggi terá sido torturado, morto e depois esquartejado dentro do consulado por uma equipa de espiões sauditas que tinha chegado a Istambul nesse próprio dia, e que partiu logo de seguida, em dois jatos privados, propriedade da família real saudita.
Até agora as autoridades turcas ainda não passaram estas provas a ninguém, e foram revelando os detalhes através de fugas de informação estratégicas que alimentaram a imprensa turca e internacional nas últimas semanas – o fato não é própriamente inocente, porque Turquia e Arábia Saudita são rivais regionais no que diz respeito à liderança do mundo islâmico.
O escândalo acontece precisamente quando uma importante cimeira económica- apelidada de “Davos no Deserto”, começa em Riade, parte de um ambicioso programa liderado pelo príncipe herdeiro para reformar a economia do Reino, e torná-la menos dependente do petróleo.
Os Ministros da economia dos EUA, França, Holanda e Reino Unido cancelaram as suas presenças, assim como Christine Lagarde, que lidera o Fundo Monetário Internacional. Angela Merkel foi mesmo mais longe, e anunciou hoje que iria suspender a venda de armas a Riade até este assassinato estar completamente esclarecido, e os culpados serem levados à justiça.
Todos os olhos se viram agora para Trump – os EUA são o principal fornecedor de armas, e aliado de Riade na contenção do Irão.
José Pedro Tavares, RFI, em Ancara
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