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Zimbabué

Morte do chefe da oposição do Zimbabué

O chefe da oposiçao zimbabueana, Morgan Tsvangirai, morreu ontem aos 65 anos na África do Sul onde estava a ser tratado por um cancro, deixando agora o seu partido na incerteza na era pós-Mugabe. Opositor histórico do recém-deposto Presidente, conhecido pelo seu dom da oratória, o eterno candidato às presidenciais às quais concorreu 3 vezes, não ganhou o seu último combate.

Morgan Tsvangirai no congresso do seu partido, o MDC, em Harare, no 31 de Outubro de 2014.
Morgan Tsvangirai no congresso do seu partido, o MDC, em Harare, no 31 de Outubro de 2014. REUTERS/Philimon Bulawayo
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Nascido a 12 de Março de 1952 no seio de uma família humilde na província de Buhera, no leste do Zimbabué, Morgan Tsvangirai deixa a escola na adolescência para trabalhar e contribuir para sustentar os oito irmãos e irmãs mais novos. Trabalha como tecelão e lança-se na acção sindical através da qual acaba por ganhar notoriedade designadamente durante as grandes greves nacionais organizadas em finais da década de 90.

Líder popular, ele paga caro o seu empenho na oposição a Mugabe no poder desde a independência do país em 1980. Com várias passagens pelas prisões do seu país depois de longos processos em que chegou a ser acusado de "traição" ou "complot contra o Chefe de Estado", ficou nas memórias o rosto intumescido que Tsvangirai apresentou depois de ser detido e violentamente espancado pela polícia em 2007.

No ano seguinte, ele tenta a corrida às presidenciais e chega à frente na primeira volta com 47% dos votos, diante do seu adversário, o Presidente Mugabe com 43%. Mas ao cabo de uma severa repressão dos seus apoiantes com um balanço de 200 mortos, ele desiste e acaba por formar um governo de união nacional com Mugabe de quem se torna Primeiro-Ministro entre 2009 e 2013, uma experiência da qual não sairá nenhuma inflexão do regime, nem em termos de economia, nem em termos de segurança.

Após a queda de Robert Mugabe em finais do ano passado, Tsvangirai mostrou-se pronto a brigar novamente a magistratura suprema pelo MDC, o seu partido, nas presidenciais previstas este ano. A doença contudo terá sido mais rápida, Tsvangirai deixando atrás de si um partido dividido quanto à sua sucessão, apesar de ele ter nomeado na semana passada um dos seus vice-presidentes, Nelson Chamisa, para liderar o MDC, o que deixava entender que o seu estado de saúde, conhecido de todos desde 2016, estava a deteriorar-se.

Sobre o sucessor de Mugabe no actual executivo de transição, Emmerson Mnangagwa, cuja formação aparece neste momento em posição vantajosa para o próximo embate eleitoral previsto antes de Julho, Tsvangirai continuou fiel às suas críticas: "Ele vai ter que trabalhar muito para mudar a sua personalidade, de modo a poder encarnar o futuro do país e apresentar-se como democrata e reformador", chegou a avisar.

Já Mnangagwa, hoje, reagindo à morte do seu mais directo adversário, saudou a sua memória e homenageou "quem sempre lutou por eleições livres, justas, credíveis e não violentas. Lembrar-nos-emos sempre da sua capacidade em estender a mão, apesar das divergências políticas, para formar um governo de unidade nacional após as eleições de 2008 que tinham dividido o país" recordou o Presidente de transição do Zimbabué. No seio do seu partido, a emoção também é grande. "Perdemos o nosso pai" declarou nomeadamente a senadora MDC Lilian Timveos.

A nível internacional, a memória do chefe da oposição do Zimbabué também é recordada, designadamente entre os vizinhos imediatos do país. Em Moçambique, o chefe do principal partido de oposição, a Renamo, Afonso Dhlakama, considerou que a morte de Tsvangirai "é um duro golpe para a democracia e sobretudo africana", um sentimento partilhado por Daviz Simango, líder do MDM, terceira força política do país. Mais pormenores com Orfeu Lisboa.

01:03

Orfeu Lisboa, correspondente da RFI em Maputo

Noutros pontos do globo, também foi saudada a força do líder político zimbabueano. Para a União Europeia, ele lutou pela "democracia multipartidária e a justiça". Para Boris Johnson, chefe da diplomacia da Grã-Bretanha, antiga potência colonial, "ele representava a coragem e a determinação face à opressão e ele deu aos zimbabueanos a fé no futuro".

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