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Muçulmanos/França

Comunidade muçulmana da França condena violências do grupo Estado Islâmico

Chocados com o assassinato do guia de montanha e fotógrafo francês Hervé Gourdel, anunciado na quarta-feira (24) à noite por jihadistas argelinos ligados ao grupo Estado Islâmico, muçulmanos franceses se mobilizam em todo o país para condenar as barbáries cometidas em nome do Islã. Em Paris, uma grande manifestação será realizada nesta sexta-feira (26) em frente à maior mesquita da capital.

Assassinato do guia de montanha e fotógrafo, Hervé Gourdel, pelos jihadistas Jund al-Khilafa, ligado ao grupo Estado Islâmico, revoltou a comunidade muçulmana.
Assassinato do guia de montanha e fotógrafo, Hervé Gourdel, pelos jihadistas Jund al-Khilafa, ligado ao grupo Estado Islâmico, revoltou a comunidade muçulmana. REUTERS/Patrice Masante
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Em toda a França, autoridades muçulmanas se pronunciam contra as violências de grupos jihadistas e temem ser associados aos crimes de grupos extremistas. Um forte movimento contra a as barbáries do grupo Estado Islâmico vem se intensificando nas últimas semanas e ganhou força com o anúncio da decapitação de Gourdel.

Em um apelo pouco frequente, o presidente do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), Dalil Boubakeur, pediu para que “muçulmanos e seus amigos” compareçam diante da Grande Mesquita de Paris nesta tarde para protestar contra “o horror e a barbárie sanguinária dos terroristas”.

Manifesto

Na edição de hoje do jornal francês Le Figaro, personalidades muçulmanas assinam um manifesto declarando solidariedade às vítimas do grupo Estado Islâmico. “Nós também somos franceses sujos”, diz o documento. O protesto é uma resposta ao jihadistas ultrarradicais que na segunda-feira pediram que muçulmanos ao redor do mundo assassinem norte-americanos e “principalmente os franceses sujos e crueis”, dois dias antes do assassinato de Gourdel.

Entre as principais autoridades muçulmanas a assinar o protesto, estão o imã da mesquita de Lyon, Kamel Kabtane, o diretor do semanário Jeune Afrique, Marwane Bem Yahmed, e a senadora socialista, Bariza Khiari.

“Um de nossos compatriotas, que caiu nas mãos de um grupo de bárbaros fanáticos, foi assassinado e integra a lista dos reféns em nome de um Islã que nenhum de nós se reconhece. Nós, muçulmanos da França, não temos outra escolha além de expressar nossa repulsa e denunciar esses crimes abomináveis perpetrados em nome de uma religião cujos fundamentos são a paz, a misericórdia e o respeito à vida”, diz a coluna.

Campanha no Twitter

No Twitter, uma campanha iniciada no Reino Unido, popularizada através da hashtag #NotInMyName (não em meu nome), ganhou uma versão francesa, #PasEnMonNom. A plataforma vem sendo utilizada pela comunidade muçulmana para expressar sua revolta contra o grupo Estado Islâmico. “Nós não somos terroristas” ou “Não faça mal à minha religião”, são algumas das mensagens veiculadas nos últimos dias.

O objetivo das mensagens, manifestos e protestos é de deixar clara a diferença entre a fé que eles seguem a religião muçulmana e o fanatismo dos radicais. Outros se revoltam contra a necessidade de fazer essa diferenciação, o que denotaria algum tipo de culpa injustificada. E uma parte acredita que, embora não tenham nada a ver com os terroristas, falta às lideranças muçulmanas da França um discurso mais incisivo de repúdio aos extremistas no cotidiano, não apenas neste momento.

Islamofobia

Desde o anúncio do assassinato de Gourdel, personalidades políticas e da mídia francesa de tendência conservadora intimam que os muçulmanos se posicionem contra a barbárie. O jornal Le Figaro também lançou uma polêmica publicando em seu site uma enquete online perguntando aos internautas se a “condenação dos muçulmanos da França” era suficiente. Intensamente criticada e classificada de islamofóbica por muitos leitores, a consulta foi retirada da página algumas horas depois.

Para o politólogo especialista no Islã da Sciences Po, Mohamed-Ali Adraoui, há uma “teatralização” dos debates ligados ao Islã neste momento, classificando os muçulmanos como “cruéis”, quando eles são jihadistas, ou “simpáticos”, quando eles denunciam o islamismo radical. Segundo ele, a situação é “paradoxal”: “quando é conveniente, queremos que os muçulmanos do país sejam apenas franceses e recusamos as comunidades. Mas, neste momento, eles são considerados integrantes de um único bloco”.

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