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Brasil/Protestos

Manifestantes temem radicalização do movimento

Em meio aos milhares de manifestantes que protestaram nas ruas do Brasil ontem, muitos começaram a se questionar sobre o rumo que as passeatas, que pretendiam ser pacíficas e defendiam solidariedade, podem tomar. Um dos temores é que o movimento possa adquirir contornos radicais e descaracterizarem as reivindicações populares.

Manifestantes tentam conter o avanço das tropas da polícia  no Rio de Janeiro.
Manifestantes tentam conter o avanço das tropas da polícia no Rio de Janeiro. REUTERS/Luciana Whitaker
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O entusiasmo de vários manifestantes que pretendiam tomar as ruas do Brasil para pedir a redução dos preços das passagens e cobrar mais justiça social pode estar diminuindo diante da radicalização de algumas pessoas que passaram a integrar o cortejo das passeatas. Esses grupos, embora ainda pareçam minoritários, exibiam a bandeira de um nacionalismo exarcebado gritando palavras de ordem a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, contra os partidos políticos e até contra as políticas sociais do governo como o Bolsa Família.

Por meio das sedes sociais, manifestantes testemunharam  para a RFI atos extremos como ataques a representantes de movimentos sociais e a partidos políticos que tentaram participar das passeatas no Rio de Janeiro. E, em São Paulo, até uma faixa do movimento negro foi queimada.

A professora de História da Universidade Federal Flumimense, Simone Silva, esteve ontem nos protestos do Rio e relatou: “O movimento começou em protesto ao aumento abusivo do preço do transporte público. A mídia tratava-o como baderna. (..) O fato é que o núcleo original, que luta desde o início pelos abusos do governo carioca, tornou-se a minoria numa massa sinistra vestida de verde-amarelo”, afirmou. A historiadora, porém, diz não se render a extremistas "reacionários" e pretende participar de um novo ato contra o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.

O professor Alexandre Lazzari, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, também notou a presença  de grupos que usavam palavras de ordem contrárias ao espírito original do movimento durante a passeata no Rio de Janeiro ontem. “Não sei dizer se a pauta conservadora venceu – [vi] muitos verde-amarelos e anti-corrupção. Eles não são massivamente predominantes, mas tenho certeza que a esquerda tradicional não tem muito Ibope ali. Não há partidos porque a política tal-como-ela-existe não é aceita nem compreendida pelos muito jovens”, avaliou.

Ivan de Souza Cardoso, gerente de marketing, também diz ter cruzado com alguns grupos formados essencialmente por “carecas, punks e encapuzados” durante a passeata carioca, mas o que o afastou das ruas foi a radicalização das forças policiais que voltaram a agir de forma violenta ontem. “Cheguei até pouco antes do Terreirão do Samba [área no centro do Rio de Janeiro próxima à sede da Prefeitura]. Por conta do avanço do Choque [tropa da polícia], tive de entrar numa das esquinas [paralelas à avenida central da passeata]. Vi gente ‘esquisita’ sim, mas fugi por conta da polícia”, declarou.

Em seu blog, a Marília Moschkovich, socióloga e militante feminista, faz uma longa reflexão sobre as mudanças rápidas no perfil dos protestos em São Paulo ao longo dos últimos  dias. Na sua avaliação, o contexto atual é um verdadeiro “quebra-cabeça” e a interpretação de todos os fatos não pode ser instantânea.

 

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