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França/Política

Ecologistas decidem não ratificar tratado europeu e abrem crise política no governo Hollande

A decisão do partido Europa Ecologia-Verdes de não ratificar o pacto fiscal europeu, anunciada pelas lideranças do movimento reunidas no sábado, trouxe uma complicação inesperada ao presidente François Hollande. A possiblidade de um racha na coalisão de governo pode abrir uma crise política no momento em que o presidente socialista terá uma semana repleta de anúncios negativos para a economia do país.

O presidente francês, François Hollande.
O presidente francês, François Hollande. REUTERS/Philippe Wojazer
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O porta-voz do Partido Socialista, David Assouline, pediu nesta segunda-feira que o partido Europa Ecologia - Verdes seja coerente com seus compromissos e mantenha essa coerência no voto de cada parlamentar sobre o pacto fiscal europeu. A decisão do conselho federal do partido de não ratificar o tratado e recomendar a seus parlamentares a fazer o mesmo era previsível mas incoerente, estimou o porta-voz durante uma entrevista coletiva, em Paris.

“A decisão não é coerente com o compromisso de apoio à ação do presidente da República para retomar o crescimento da França e dar nova orientação à Europa, que são combates indissociáveis”, disse o porta-voz.

O Europa Ecologia –Verdes (EELV, na sigla em francês) tem dois ministros no governo Hollande e uma base de 17 deputados no parlamento que compõe a base de sustentação do governo.

Assoline destacou a importância para o voto dos ecologistas a favor do pacto fiscal “para dar sequência aos assuntos ugentes para a zona do euro como a criação dos eurobônus, a harmonização fiscal e social e a melhor governança econômica do bloco”.

O porta-voz do Partido Socialista não quis responder à pergunta sobre a eventual fragilidade da coalisão de governo após a decisão do conselho federal do Europa Ecologia - Verdes. “O conjunto das forças de esquerda que optaram pela mudança deve continuar a trabalhar junto”, defendeu o porta-voz.

"Dany, o vermelho"

A decisão dos caciques do partido no sábado provocou a saída temporária de uma das figuras mais emblemáticas do movimento ecologista europeu, o eurodeputado franco-alemão Daniel Cohn-Bendit. "Dany, o vermelho", como é conhecido na França, anunciou a suspensão de sua participação no movimento e acusou as lideranças do Europa Ecologia-Verdes de “incoerência total”.

Para Cohn-Bendit, se os parlamentares ecologistas não ratificarem o pacto fiscal europeu , eles também não devem aprovar o orçamento do governo francês, situação que obrigaria automaticamente os ministros do partido a deixar seus cargos no governo do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault.

O presidente do grupo ecologista no Senado, Jean-Vincent Placé, não acredita nesta hipótese e descarta qualquer saída dos representantes verdes do governo socialista por causa do voto contra a ratificação do pacto fiscal europeu. Segundo Placé, o presidente Hollande iria “mais perder do que ganhar” com uma eventual saída dos verdes do governo.

Em entrevista ao site Mediapart, publicada no domingo mas realizada na sexta-feira, antes da reunião do Conselho Federal do partido Europa Ecologia-Verdes, o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault dramatizou a situação ao alertar que os participantes da base do governo que não votassem a favor do pacto fiscal levariam “a Europa a uma situação de crise política “porque a consequência natural de uma decisão contra o tratado seria uma saída da zona do euro.

Economia

A crise aberta pelo Europa Ecologia –Verdes chega num momento de forte pressão sobre o governo Hollande que deve receber uma avalanche de péssimas notícias econômicas durante a semana.
Três planos de demissão em massa deverão ser confirmados pelas empresas Arcelor-Mittal, Sanofi e Petroplus e poderão afetar 5 mil trabalhadores.

Na quarta-feira deverá ser anunciado oficialmente que o índice de desemprego na França atingiu mais de 3 milhões de pessoas e na sexta-feira, o projeto orçamentário será detalhado com medidas estimadas em 30 bilhões de euros para diminuir o déficit público, sendo 20 bilhões de aumento na arrecadação de impostos.

Azar do calendário, a enxurrada de péssimas notícias vai se abater sobre a França no momento em que o presidente François Hollande estará em Nova York para uma série de compromissos diplomáticos.
 

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