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Avignon/Festival

A temática sobre a infância domina o Festival de Avignon

As crianças estão presentes em diversos espetáculos da 65ª edição do Festival de Avignon. No pátio de honra do Palácio dos Papas, principal palco do evento, 27 crianças contracenam com 9 bailarinos numa coreografia impressionante que tem provocado controvérsias.

Ensaio de "Enfant", de Boris Charmatz, em cartaz no Festival de Avignon.
Ensaio de "Enfant", de Boris Charmatz, em cartaz no Festival de Avignon. © Boris Brussey
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Coreógrafos e dramaturgos exploram esse ano em Avignon a chamada “idade da inocência” em suas criações. Pelo menos cinco espetáculos têm como temática a infância e crianças como intérpretes.

“Enfant”, espetáculo de abertura do festival e carro-chefe do evento, é o mais intrigante de todos e não tem deixado os espectadores insensíveis. Em busca de novas linguagens, o coreógafo e bailarino francês Boris Charmatz coloca em cena crianças de 6 a 12 anos que interagem com bailarinos e com duas imensas máquinas que levantam corpos inertes. O espetáculo ocorre ao cair da noite e num gigantesco cenário medieval.

Em busca do gesto puro

Charmatz constrói o espetáculo em dois tempos antagônicos: na primeira parte as crianças completamente adormecidas, são deslocadas de colo em colo dos bailarinos numa coreografia delicada e sutil. Na segunda parte a situação se inverte: as crianças manipulam com vigor, e até mesmo agressividade, os corpos inertes dos bailarinos.

Com este trabalho, o jovem coreógrafo francês ousa abordar a temática do corpo da criança considerado “intocável”, como ele mesmo diz, “numa sociedade amedrontada pelos casos de pedofilia”. Ele desenvolve uma dança pura, primária, se inspirando na esponeidade infantil. Um espetáculo que fascina muitos espectadores, mas que desconcerta uma parte do público que se retira antes do final.

A inocência perdida

A infância é também o tema da peça da espanhola Angélica Liddell, uma das dramaturgas mais provocadoras da cena europeia, que apresenta esse ano em Avignon “Maldito seja o homem que confia no homem”. Longe da abordagem da infância idílica, sua peça trata da violência em torno da passagem à idade adulta. “Nós não perdemos apenas a inocência. Nós a perdemos sempre da pior maneira possível, recebendo bofetadas”, é o que explica a diretora espanhola para resumir sua peça, concebida como um abecedário, onde cada letra é associada à uma situação ligada à infância.

Inspirado num caso verídico ocorrido na Alemanha, onde duas crianças de 6 e 7 anos partiram de casa para realizar o sonho de se casar na África, mas foram resgatadas no caminho do aeroporto, o francês Cyril Teste criou para esta edição do festival o espetáculo “Sun”. Duas crianças no palco contracenam com dois atores numa peça que recorre ao vídeo e a uma sofisticada iluminação para questionar nosso secreto universo infantil.

A criança é também o centro de uma montagem de Hamlet que estreia nesse sábado em Avignon. O francês Vincent Macaigne, um dos mais jovens diretores do festival, imaginou para sua versão da tragédia de Shakespeare, Hamlet e Ofélia ainda crianças. Para Macaigne, Hamlet é antes de mais nada uma criança, cujo sonho foi brutalmente interrompido. O diretor teatral constrói sua peça baseando-se na idéia de que o sofrimento de Hamlet vem de sua impossibilidade de virar adulto e continuar, ao mesmo tempo, sendo uma criança.

 

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