Carros sem motorista podem chegar às ruas sob ameaça de hackers
Nos próximos meses, o carro autônomo do Google deve ser testado pela primeira vez em via pública. Mas, ainda que tudo corra bem com os primeiros quilômetros deste veículo sem motorista, a nova tecnologia preocupa empresas americanas de segurança informática e deve obrigar as companhias de seguro a rever completamente seus modelos de negócios. Do lado informático, não pode ser descartado o risco do controle de um carro autônomo ser assumido por hackers no meio do trajeto; do ponto de vista das seguradoras, a questão fundamental é: quem seria o responsável em caso de acidente?
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As montadoras destes carros, que podem começar a circular ruas já em 2017, afirmam que levam em conta os riscos de ataques piratas e trabalham justamente no aperfeiçoamento das tecnologias de ponta. Para funcionar sem motorista, esses veículos precisarão de todo um conjunto de gadgets: câmeras, radares, sonares e lidares (condução a laser), administrados à distâncias por softwares capazes de reconhecer limites de calçadas e faixas, placas de trânsito e todo tipo de obstáculos.
Mas, como esses aparatos só poderão funcionar em rede, existe o risco de invasão. Afinal, um exemplo recente mostra o quanto qualquer rede é vulnerável: recentemente um pirata informático se gabou de ter usado o wifi oferecido aos passageiros de um voo para, de dentro do avião, entrar nos sistemas eletrônicos do aparelho e modificar sua trajetória.
Acidente à distância
As empresas de segurança informática Mission Secure Inc (MSi) e Perrone Robotics Inc fizeram uma série de testes de segurança em carros autômatos, em colaboração com a Universidade da Virgínia e o departamento de Defesa. De acordo com elas, as novas tecnologias, que prometem deixar os carros mais confiáveis e seguros, podem sim ser desorganizadas por hackers. Eles só precisariam de uma conexão sem fio, bluetooth ou wifi.
Um dos testes consistia em mudar o comportamento do veículo diante de um obstáculo: pirateado, o sistema obriga o carro a acelerar ao invés de frear diante de um obstáculo detectado pelo lidar, causando uma colisão em alta velocidade. Outro cyber-ataque substitui o comando para uma freagem suave pelo de uma freagem brusca, fazendo o carro perder o controle. O relatório, que pode ser consultado no site da MSi, avalia que "essa situação coloca grandes desafios e riscos para a indústria automobilística e para a segurança pública".
A AFP tentou contatar montadoras que trabalham na fabricação de carros autônomos, mas a maioria não quis responder aos pedidos de entrevista. Especialistas próximos da indústria declararam, no entanto, que o risco de cyber-ataques foi levado em conta e testes realizados ao longo de todo o processo de fabricação. O Google, por exemplo - que se recusou a falar -, teria uma equipe informática de alto nível, encarregada de desafiar os softwares usados em seu carro.
Novo modelo de negócio para seguradoras
A questão da segurança dos carros autônomos também preocupa as seguradoras, que podem ser obrigadas a repensar seus contratos e calcular novamente os prêmios. Em um primeiro momento, eles devem aumentar por conta do preço dos próprios carros, que devem subir por conta do custo da tecnologia e de eventuais peças de reposição.
Mas, conforme os aparelhos se popularizem, a tendência é que o preço caia. Mesmo assim, ainda é muito difícil estimar o impacto da nova tecnologia neste mercado, já que ainda que os riscos associados diretamente aos motoristas possam reduzir, outros - como os cyber-ataques - aparecem no lugar. E, nestes casos, quem deveria ser responsabilizado? A empresa que fabricou o carro, a companhia de segurança, que não conseguiu impedir o ataque, a própria seguradora, o motorista? Ainda não há como responder a essa pergunta.
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