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ANGOLA

Angolanas denunciam violência doméstica

Angola cumpriu às 13 horas um minuto de silêncio em homenagem a todas as mulheres vítimas de violência. Na base da iniciativa esteve a RNA, Radio Nacional de Angola, a única com cobertura nacional, que optou por suspender a respectiva difusão.

Manifestação em Luanda contra a violência doméstica em 2018 (fotografia de arquivo).
Manifestação em Luanda contra a violência doméstica em 2018 (fotografia de arquivo). RFI
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A imprensa angolana observou nesta quinta-feira às 13horas, " um minuto de silêncio" pelo "não à violência contra a mulher" aderindo assim a campanha lançada pela Rádio Nacional de Angola (RNA), emissora estatal, sob o lema "Não à violência contra a mulher" em homenagem às vítimas.

´´A Rádio Nacional de Angola (RNA) cumpre hoje (quinta-feira), às 13h00, um minuto de silêncio, em homenagem às mulheres vítimas de violência em Angola. Pretende-se com a iniciativa induzir a sociedade para uma ampla reflexão à volta do problema, que se tem agudizado no país.´´

Segundo a administradora de marketing comercial e intercâmbio da RNA, Círia de Castro, ´´outras estações de rádio, cadeias de televisão em sinal aberto e departamentos ministeriais associaram-se à iniciativa´´ reforçou .

Várias estações de rádios, públicas e privadas, como é o exemplo da Ecclesia, Kerois da emissora metodista, Despertar e Estações televisivas como a TPA a estatal, ou as privadas TV Zimbo e Palanca TV , solidarizaram-se com o apelo da RNA e com as vítimas de violência, paralisando os seus serviços durante um minuto, às 13h00.

Só em 2018, pelo menos 34 mulheres perderam a vida, vítimas de agressão e violência, segundo dados da Direcção de Investigação Criminal para prevenção contra a violência doméstica.

Dados do INE, Instituto nacional de estatítica para 2015-2016 apontam que 32 por cento das mulheres foram vítimas de violência física, desde os 15 anos, e 22 por cento nos 12 meses anteriores ao inquérito.

Oito por cento das mulheres foram vítimas de violência sexual em algum momento e cinco por cento nos últimos 12 meses, enquanto 34 por cento foi vítima de violência conjugal (física ou sexual) cometida pelo marido ou parceiro.

Com esta iniciativa da RNA, destina-se a chamar a atenção para os índices de violência contra a mulher a nível mundial, "que não param de crescer", com Angola, infelizmente, a fazer parte dessa triste realidade".

Em comunicado de imprensa enviada à RFI, a rádio estatal angolana alega que "Os direitos das mulheres são os direitos humanos mais violados. Todos os dias assistimos a casos de violência contra a mulher que, não poucas vezes, levam ao luto, remetendo centenas de crianças à orfandade", lê-se.

Por isto "impõe-se um posicionamento sério" dos órgãos de comunicação social, razão pela qual a RNA "tomou a liberdade de lançar a iniciativa, como um projeto de responsabilidade social de impacto social e de abrangência nacional".

O objectivo da RNA foi o de chamar a atenção para um fenómeno que, segundo dados oficiais de 2018, provocou a morte de 30 angolanas entre os quase 7.000 casos denunciados.

"Nós, RNA, não estamos alheios aos fenómenos sociais, porque fazemos parte desta mesma sociedade e que a sentimos de alguma maneira adoentada com este fenómeno. Sabemos que a nossa Constituição garante o direito à vida a todos os cidadãos angolanos. Mas sabemos também que, em Angola, os direitos das mulheres são os mais violados e é contra isso que estamos", afirmou.

Salientando ver o fenómeno "com muita preocupação", Círia Cassoma lembrou a máxima "na briga, na confusão, entre marido e mulher ninguém mete a colher' para frisar que essa ideia está "muito enraizada" na sociedade angolana.

"Essa ideia é tão profunda, tão enraizada, que, na maior parte dos casos em que as pessoas percebem que há efetivamente potencial de crime, ou criminal, deixam-se estar. E o que acontece é que é quase sempre fatal", sublinhou.

Na 'régie' da RNA, cerca de três dezenas de profissionais e administrativos, trajados com 't-shirts' brancas com o nome da campanha, observaram um minuto de silêncio, com a emissão silenciada por idêntico período, enquanto um televisor, sintonizado na Televisão Pública de Angola (TPA), mostrava, à mesma hora, uma fotografia da campanha.

Pouco depois, os funcionários da RNA saíram das instalações da rádio e, nas ruas adjacentes, começaram a distribuir flores aos automobilistas, sobretudo aos homens, como mais uma forma de chamar a atenção para a violência doméstica em Angola.

A 25 deste mês, ao anunciar a campanha, a direcção da RNA salientou a ideia de se pretender chamar a atenção para os índices de violência contra a mulher a nível mundial "que não param de crescer", com Angola, argumentou, "a fazer parte dessa triste realidade".

"Os direitos das mulheres são os direitos humanos mais violados. Todos os dias assistimos a casos de violência contra a mulher que, não poucas vezes, levam ao luto, remetendo centenas de crianças à orfandade", argumentou a RNA, que defendeu a necessidade de um "posicionamento sério" dos órgãos de comunicação social.

A 28 de novembro de 2018, o Governo angolano indicou que os dados referentes a 2017 apontaram para 6.097 denúncias de casos de violência doméstica nos Centros de Aconselhamento espalhados pelo país, mais do que as 5.707 feitas em 2016.

Com a colaboração de Daniel Frederico em Luanda.

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