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Argentina/Manifestação

“Marcha do Silêncio” reúne 1 milhão de pessoas na Argentina

A marcha convocada por promotores de Justiça argentinos levou milhares de pessoas às ruas do país na noite de quarta-feira (18). A manifestação silenciosa por uma justiça independente acontece um mês após a morte do promotor Alberto Nisman, morto depois de acusar a presidente Cristina Kirchner de entrave nas investigações sobre um atentado antissemita na Argentina.

Participantes da 'Marcha do Silêncio', que tomou conta das ruas de Buenos Aires nesta quarta-feira (18), carregam cartazes "Eu sou Nisman".
Participantes da 'Marcha do Silêncio', que tomou conta das ruas de Buenos Aires nesta quarta-feira (18), carregam cartazes "Eu sou Nisman". REUTERS/Marcos Brindicci
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Com a participação de Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A “Marcha do Silêncio” foi a manifestação popular mais importante desde a chegada de Cristina Kirchner ao poder, há sete anos. O protesto ilustra a onda de choque provocada no país pela morte, em circunstâncias misteriosas, do promotor. As primeiras investigações apontam para um suicídio, tese questionada por uma grande maioria de argentinos.

Alberto Nisman foi encontrado morto no dia 19 de janeiro, quatro dias depois de ter denunciado a presidente argentina de encobrir a participação do Irã no atentado terrorista contra uma associação judaica em Buenos Aires e na véspera de depor no Congresso sobre o caso. O atentado, em 1994, deixou 85 mortos e 300 feridos e é o pior da história do país.

Os promotores que organizaram a marcha em homenagem ao promotor Alberto Nisman negam qualquer tentativa de fazer uma recuperação política do protesto. Mas no passado, já haviam acusado o governo de esquerda de Kirchner de intimidação e intervencionismo na Justiça do país. Responsáveis governamentais acusaram os promotores de conspirar com a oposição de direita para desestabilizar a presidente.

Marcha do Silêncio substitui panelas por guarda-chuvas

Pouco antes de a marcha começar, uma chuva torrencial desabou sobre Buenos Aires. Ninguém desistiu. Se as panelas foram sempre a marca dos protestos na Argentina, desta vez, os guarda-chuvas se tornaram o símbolo da proteção contra a impunidade. Os manifestantes fizeram um minuto de silêncio, sonoro e profundo, para homenagear Alberto Nisman. Um silêncio que foi interrompido pelos aplausos ao promotor.

"Estou totalmente indignado pela perda dos valores republicanos. Democracia é muito mais do que eleições livres. É preciso divisão de poderes, algo que a Argentina perdeu há muito", lamenta Alan Mizrahi, de 50 anos, refletindo sobre um dos lemas da marcha com o pedido para que o governo não interfira mais nas investigações da Justiça.

Sobre o promotor morto horas antes de se apresentar no Congresso com detalhes da denúncia e provas contra a presidente Cristina Kirchner, o ministro das Relações Exteriores e outros três acusados, Alan acredita que "houve um assassinato". Mas para ele, assim como no atentado de 1994 contra a Associação Mutual Israelita que continua impune, a morte de Nisman deve ter o mesmo destino.

Contra a impunidade

Graciela Martínez, de 70 anos, também duvida que a verdade seja esclarecida, mas, para cortar a sina argentina, pede uma Justiça sem interferência do governo. "A Justiça deve agir livremente e ser limpa. Por isso estamos aqui", diz, ao lado do marido Roberto Martínez, também de 70 anos, quem marcha em defesa da Justiça. "Se a Justiça não funciona, nenhuma democracia funciona. Se não funciona, começa a corrupção e todos os males", acredita. "Mataram o Nisman", afirma.

Na outra ponta da faixa etária, Mariel Kozynski, de 18 anos, crê que a situação exige que "haja uma real divisão de poderes e que haja liberdade na Argentina". "Acho difícil que se chegue à verdade. Não creio numa real disposição para isso, mas esperemos que sim", confia.

A maré humana debaixo de guarda-chuvas, segundo a Polícia Metropolitana, foi de 400 mil manifestantes somente em Buenos Aires, foco da marcha originalmente convocada pelos promotores. A concentração em praças e avenidas de todo o país teria passado de um milhão de pessoas, segundo projeções extra-oficiais.
 

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