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França

Morte dos jornalista RFI no Mali: Hollande ouvido pela justiça

François Hollande foi ouvido pela justiça no caso dos dois jornalistas da RFI assassinados no Mali. O antigo presidente foi ouvido depois de ter mostrado saber informações que não correspondiam ao estado das investigações. Aos juízes Hollande falou de "interpretações erradas".

Claude Verlon e Ghislaine Dupont.
Claude Verlon e Ghislaine Dupont. ©RFI
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O que é que altos funcionários do Estado francês sabiam sobre as circunstâncias do assassínio de dois jornalistas da RFI em 2013 no Mali? Frente aos juízes parisienses, o ex-presidente francês François Hollande teve de explicar as suas preocupações confidenciais sobre Chislaine Dupont e Claude Verlon.

A 11 de Janeiro, o ex-presidente deslocou-se discretamente ao tribunal de Paris para ser ouvido como uma testemunha, pelos juízes de instrução Jean-Marc Herbaut e David de Pas, que investigam o sequestro e morte dos dois jornalistas da RFI que se encontravam em reportagem em Kidal, no norte do Mali.

A 10 de Dezembro já tinha sido ouvido o antigo chefe da Direcção Geral da Segurança Externa (DGSE) francesa, Bernard Bajolet.

A 2 de Novembro de 2003, os militares franceses descobriram os corpos dos dois repórteres, executados por bala, junto de uma carrinha dos sequestradores. Os investigadores defendem a teses de um rapto fracassado por um grupo jihadista.
A Associação "Les amis de Ghislaine Dupont et Claude Verlon" ("Os amigos de Ghislaine Dupont e Claude Verlon") tinha pedido estas audições em Novembro, depois François Hollande e Bernard Bajolet, em conversas com jornalistas, terem sugerido que eles tinham informações que não correspondiam ao estado das investigações. Finalmente, os desmentidos que acabaram por fazer aos seus depoimentos, apenas aumentaram as dúvidas das partes civis.

"Ou o ex-presidente da República e o ex-director da DGSE mentem concertadamente, ou eles consideram que têm autoridade para contar qualquer coisa que lhes passe pela cabeça. Num dossier tão sensível e doloroso como este, não sei mesmo o que é mais preocupante: a ligeireza da oratória ou a vontade de obstruir a verdade”, afirmou à AFP a advogada da associação, Marie Dosé.

As questões foram levantadas depois de numa conversa em “off”, a 19 de Outubro de 2018, entre o ex-presidente François Hollande e vários colegas dos repórteres mortos.

Nesta conversa, segundo os juízes, Hollande explicou “num tom de evidência (…) que os reféns foram mortos” porque os sequestradores “entram em pânico” ao darem conta que estavam a ser “seguidos por um helicóptero”. No entanto, os magistrados lembraram que a presença de um avião do exército francês sobrevoando a área imediatamente após o sequestro não foi confirmada.

"Talvez eu não me tenha exprimido bem ou os jornalistas me tenham entendido mal", avançou François Hollande. "O que eu queria dizer (...) é que não houve (...) nenhuma troca de tiros entre militares (franceses) e os terroristas", rectificou o ex-presidente, afastando a tese de "alguns jornalistas" sobre a alegada má conduta do exército e serviços de inteligência franceses.

"Interpretações erradas "

Os juízes franceses também questionaram o antigo chefe de Estado sobre um misterioso telefonema. Ligação sobre a qual supostamente Hollande teria confidenciado, a 7 de Dezembro de 2013, um jornalista da RFI. Em tribunal falou de "interpretações erradas".

Naquele dia, Hollande, de acordo com a transcrição do jornalista, teria avançado: "nós ouvimos uma conversa após a tragédia na qual" um provável "cabecilha acusou um membro do comando de destruir a mercadoria". A investigação nunca encontrou traço desta escuta. Cinco anos depois, Hollande não tem "lembranças" dessa conversa.

Por outro lado, o antigo chefe da DGSE parecia recentemente confirmar essa escuta. “fui eu que lhe disse [ao presidente]”, teria confirmado em conversa informal a 4 de Outubro, à margem de uma entrevista. Porém, a 10 de Dezembro, ao juiz Jean-Marc Herbaut, Bernard Bajolet não se lembrava de ter sido “assim afirmativo”, pois “ao seu conhecimento” essa escuta “nunca existiu”.

O alto funcionário admite ter ficado "um pouco desestabilizado com a ideia de desmentir um antigo chefe de Estado (...) eu gaguejei algo que já não me lembro". "Senti-me como se tivesse caído numa armadilha", concluiu.

O porta-voz da associação "Les amis de Ghislaine Dupont et Claude Verlon" , Pierre-Yves Schneider, reagiu indignado esta segunda-feira: “Temos a sensação de que somos tratados por imbecis. Hoje, os mais altos funcionários do estado (francês) falam meias-verdades nos tribunais. Quanto mais clareza lhe é solicitada, mais confusas são as suas repostas. (…) Mais uma vez pedimos transparência. De cada vez que encontramos o antigo Presidente da República François Hollande, ele diz que não há ‘segredo de estado’ neste caso, que nada nos é omisso. É uma contradição total”.

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